quarta-feira, 23 de julho de 2008

ESTE BLOG ESTÁ DE FÉRIAS, ABRIRÁ BREVEMENTE COM A MESMA GERÊNCIA

Mesmo de férias, na costa vicentina profunda (pelo menos quando é preia-mar), chegam as notícias dessa terra tão badalada, ultimamente, como é o Barreiro. Nem mesmo esta “encenação” dos ciganos da Quinta da Fonte conseguiu desviar as atenções do que de bom se faz no burgo ribeirinho.

A mim ninguém me convence que o que sucedeu no bairro da Quinta da Fonte, em Loures, não passou de um esquema urdido pelo governo para desviar as atenções das acções desenvolvidas pelo nosso executivo camarário para eliminar as barracas na Quinta da Mina.

A notícia chegou pelo jornal e ficámos a saber como foi grande o contentamento do Sr. Presidente da Câmara do Barreiro quando anunciou que tinham sido erradicadas, as últimas barracas na Quinta da Mina.

O que nem os jornais, nem o Sr. Presidente nos disseram é que antes de terem sido entregues, a estas nove famílias ciganas da Quinta da Mina, as casas pintadas à pressa para disfarçar os danos dos anteriores moradores, curiosamente também de etnia cigana, o funcionário que representava a autarquia neste bairro, foi ameaçado por um dos pretendentes a uma destas mesmas casas.

A cena foi recambolesca e violenta. Segundo contam, à boca pequena, alguns funcionários da Câmara do Barreiro, o indivíduo em questão, armado com uma faca cortou o fio do telefone e ameaçou que faria o mesmo ao pescoço do funcionário camarário se não fosse um dos contemplados com uma nova casa.

O representante da autarquia, acabou por fugir e nem mesmo em risco de perder o emprego se predispôs a voltar ao lugar que abandonara. Não consta que a Câmara tenha dado início a qualquer processo criminal contra o agressor.

Apetece perguntar se a construção do Bairro da Quinta da Mina, [obra filantrópica da Câmara Municipal do Barreiro, (no tempo do PS, mas que para o caso pouco importa orque qualquer partido político faria o mesmo...) que no passado, em moeda antiga, custou muitos milhares de contos aos contribuintes, e necessita agora de quase 1M€ para ser recuperado], não é já bastante para gente que agradece tão pouco e começa, nitidamente a pensar que é nossa obrigação dar-lhes o que não querem pagar.

Com a proposta dos ciganos da Quinta da Fonte de convocar uma concentração nacional se não lhes derem outra casa noutro local, diferente de Loures, esperemos que ninguém se lembre de propor a junção destes aos que temos na Quinta da Mina.

Com a experiência de uns em partir casas e resolver os problemas a tiro e os treinos que os outros efectuam com regularidade, teríamos assim uma espécie de “Curso Novas Oportunidades”.

A forma com que estamos a falar desta “coisa” é em tom leve e ligeiramente humorado mas a “coisa” pode ser séria se todos aqueles a quem entregamos casas por rendas simbólicas, de 3€, 4€ ou 5€, ainda por cima se acharem no direito de não pagar sabendo que desta atitude nenhuma penalidade recai sobre eles.

A Câmara Municipal de Loures já divulgou quanto lhes deve estas 60 famílias que teimam em se manter desalojadas. E no Barreiro, a situação é diferente? Valerá a pena manter “integrados” estes cidadãos que teimam em não querer aculturar-se, mantendo o seu modo de vida, fechando-se numa sociedade que não aceita as mesmas regras que os demais dos portugueses?

Como se consegue explicar aos velhotes necessitados que habitam as casas em risco de derrocada do Barreiro Velho, aqueles que trabalharam uma vida inteira, pescando no rio, carregando às costas os sacos de adubo, na CUF, a cortiça na Braancamp ou espalhando o balastro nas linhas da CP, que o português de etnia cigana merece mais que eles ter uma casa com o mínimo de condições para habitar?

É Xenofobia? Sou Xenófobo? Talvez, nem eu sei...

Se xenofobia é sentir-me revoltado ao ver aqueles que trabalharam uma vida inteira para que a nossa sociedade possa ser como é, serem ignorados, deixados a morrer sózinhos num bairro como o Barreiro Velho, então devo ser xenófobo.

O que eu gostava realmente era que o Barreiro agradecesse aqueles que trabalharam uma vida inteira para que tivéssemos podido ter escolas, piscina, cinemas (que entretanto fecharam), ter podido tirar cursos superiores e sermos investigadores, informáticos, médicos, advogadas, gestores, engenheiras, enfermeiros, juízas, etc, dando-lhes um final de vida em casas condignas.

A Quinta da Mina deveria ser para aqueles que moram no Barreiro Velho, no Bairro das Palmeiras ou na Quinta da Amoreira, que trabalharam uma vida inteira, continuam trabalhando e não têm direito a reformas decentes.

Alerto os empresários da construção civil, o director financeiro da Câmara Municipal do Barreiro e o Vereador do Urbanismo para o facto de esta proposta poder render novas áreas para urbanizar e encher com prédios de habitação (comércio e serviços, já me esquecia). Sempre eram mais umas taxinhas ...

Ah, acabo de receber um e-mail onde me dizem que a estratégia é deixar cair o Barreiro Velho para depois se poder fazer melhor negócio. Como cada imóvel ocupa uma pequena área será necessário comprar três ou quatro para conseguir construir um edifício moderno. Esta situação que à partida pode parecer ser de evitar por obrigar a negociar com mais que um proprietário é no final mais lucrativa porque permite oferecer muito pouco a cada um dos potenciais vendedores uma vez que estes estão sempre reféns uns dos outros.

Ok, já percebi, meus senhores, o Barreiro Velho resolve-se assim. E o Bairro das Palmeiras?

Está a chegar outro e-mail... Claro, como pude eu esquecer que em tempos se falou também na cedência de terrenos do Quimiparque para habitação social? Pois claro! Com o comboio convencional a passar nos terrenos da sub-estação da EDP e instalações dos TCB haverá necessidade, daqui a alguns anos, quando estiverem esgotados os terrenos ribeirinhos do Quimiparque, de eliminar parte do aglomerado de empresas da antiga zona têxtil e construir aqui o bairro social onde viverão os sobreviventes do Bairro das Palmeiras.

Bem pensado. Sempre a trabalhar para o progresso do Concelho! Mas, lembrei-me agora. E a sub-prime? Não vos assusta a crise do mercado imobiliário? E se começassem a pensar em reformular o Plano de Reconversão do Quimiparque? Podiam sempre fazer o MasterReconversãoPlan ... Quaisquer 1M€ pagariam este novo trabalho da Risco-Augusto Mateus Associados-Parque Expo, não acham?

Mas nem tudo são nuvens negras no horizonte. Pelo jornal foi também possível saber que numa das rotundas que se projectam para a nova cidade, que o Forum Barreiro e o novo Mercado 1º de Maio vão criar, será erguida uma escultura de Malangatana.

Malangatana Valente Ngwenya, famoso pintor e escultor moçambicano vai edificar um monumento (uma escultura é pouco!), diz o jornal, junto ao antigo estádio Manuel de Melo. Mais se fica a saber que esta foi uma decisão do mMunicípio que já tem na sua posse o projecto.

Se assim é não seria correcto o Município mostrar ao Povo (que é quem mais ordena, lembram-se?) antes de decidir por si só onde o pôr? E quanto custa este monumento? O último, na rotunda da escola de Álvaro Velho, se se recordam, custou mais de 50 000 contos ...

Ou será que Malangatana, que afirmou ser a cidade do Barreiro a sua terra do coração e que “se alguém pensa que é mais barreirense que (ele) só por ter nascido lá (no Barreiro), engana-se”, com tanto amor e carinho oferece o monumento?

Espero bem que assim seja, porque caso contrário ficará a impressão, de que a aposta na gente da nossa terra é só quando se quer alguma coisa “à borla”!

A propósito quem foi o autor do bonito arranjo da rotunda dos Casquilhos? Está de parabéns! Que pena não vingar o exemplo ...

Meus senhores, senhoras minhas, boas férias.

Captain Jack