terça-feira, 4 de novembro de 2008

AVENIDAS NOVAS OU RUAS ESTREITAS?


Abrem-se Ruas e rasgam-se Avenidas!
Não se trata de uma alusão ao significado físico da frase mas de uma metáfora que me ocorre para classificar o que se vem fazendo, desde há muito nesta cidade do Barreiro.

Quando todo o executivo camarário se empenha em viabilizar um investimento privado como o Forum Barreiro, mesmo que para isso tenha que transformar o centro da cidade num imenso estaleiro de obras, onde estas decorrem, muitas vezes com/sem o mínimo de segurança; quando ouvimos Vereadores e Presidente a falar do Forum Barreiro como fonte geradora de emprego e solução para colmatar a falta deste, na cidade; quando é a própria autarquia que apresenta um Centro Comercial como solução para a estagnação do comércio local e não como um concorrente daquele que ainda consegue sobreviver; é abrir uma rua onde se pode rasgar uma Avenida.

Nestes longos meses de obra abundaram os trabalhadores estrangeiros, as empresas espanholas e os migrantes diários que, arrebanhados nos interfaces de transportes de Lisboa, eram descarregados no Barreiro para fazer a “Obra”. Quantos barreirenses lá trabalharam? Quantas empresas se instalaram no Barreiro?

Quem certamente não se pode queixar são os cafés das redondezas que nestes últimos cinco meses venderam mais bicas, cervejas e sandes de presunto que no resto do ano. As pastelarias não deram conta às tortas de chocolate e às bolas de manteiga. Os restaurantes de “prato-de-dia” conheceram, no último mês, o incremento dos bitoques e das febras. O McDonald’s vendeu tantos hamburgueres que subiu no ranking dos franchisados.

Isto meus senhores, minhas senhoras, é tapar o sol com a peneira, é ignorar as oportunidades e as potencialidades que a cidade oferece.

Temos uma avenida marginal única, com condições imensas e desaproveitadas. Os quarteirões do Barreiro antigo têm particularidades que os colocam numa situação privilegiada, do ponto de vista comercial e o parque empresarial Quimiparque tem estrutura para poder/dever ser aproveitado para desenvolver, a cidade e o Concelho, e não para um mega-negócio de especulação imobiliária.

Do ponto de vista físico, transformou-se a antiga Avenida da Bélgica, mais tarde Alfredo da Silva, numa Rua que será brevemente conhecida como a “rua que vai para o Forum” e que, certamente, será baptizada de Rua Mercado 1º de Maio, neste lento processo de eliminar os nomes, as personagens e os acontecimentos de referência da velha cidade que, em tempos idos, pulsou e teve vida própria.

O Barreiro, como o conhecíamos há trinta e tal anos está hoje mais bonito com a nova rua (por enquanto) Alfredo da Silva e não deixa de ser irónico que é precisamente o Partido Comunista, que empunhou a bandeira da luta contra o capitalismo e os capitalistas deste país que abre as portas e entra com passadeira vermelha no novo templo do consumo urbano.

Somos um país baralhado, onde os partidos de direita defendem o aumento do ordenado mínimo, das pensões dos reformados e dos antigos combatentes enquanto os de esquerda convidam o capital para investir em negócios de especulação imobiliária ou de incentivo ao consumo.

Os últimos meses foram de uma azáfama diabólica com ruas encerradas ao trânsito, outras estreitas que, de sentido único, passam a ter dois sentidos e cada um que se “desenrasque”, travessas sem trânsito que passam a conhecer engarrafamentos em hora de ponta, passeios onde circulam máquinas e pessoas, num convívio de mãos dadas com as (inexistentes) condições de segurança.

Hoje, contudo, tudo termina para dar lugar a um eixo que liga o futuro novo mercado 1º de Maio ao novíssimo Forum Barreiro, na bonita Rua Stara Zagora, limitada por duas belas rotundas e largos passeios aos quais conduz uma linda de estarrecer (estreitada) ex-avenida-actual-rua Alfredo da Silva, ao estilo das capitais europeias com árvores escolhidas a dedo (houve o cuidado de escolhê-las com vários tons de folhagem, para compor melhor o ramalhete inaugural).

A propósito Sr. Presidente, as novas árvores da Avenida-agora-Rua Alfredo da Silva, não são Plátanos, aquelas árvores que tantos problemas têm criado na Avenida Alexandre Herculano?

È sem dúvida uma obra que embeleza a triste ex-avenida Alfredo da Silva e têm razão em estarem contentes e impantes os membros do executivo comunista que, depois de tanto mal terem dito do negócio feito pelos socialistas com a sociedade Espaço 3030, responsável pelo Loteamento da Quinta das Cordoarias, nestes últimos dias não se cansam de aparecer no movimentado terreiro das obras, espalhando cumprimentos e recolhendo palmadas nas costas.

O “parabéns, está muito bonito!” (e de facto está) foi repetido até à exaustão, mesmo por aqueles que há trinta anos fecharam os portões da “fábrica” e escorraçaram quem os empregava. Os manifestantes de punho erguido que encheram as ruas do Barreiro, gritando palavras de ordem contra o Capital, exigindo que os ricos pagassem a crise, são os mesmos que agora, fazem fila para serem vistos a passear no Forum Barreiro.

Serão os ricos que vão pagar esta “crise”? Foi o povo quem mais ordenou esta política de favorecimento ao especulador imobiliário que conseguiu fazer aprovar um loteamento com mais de duzentos fogos para o centro do Barreiro?

E quando os previstos 750 veículos em hora de pico, aos fins da tarde de Sábado, rumarem ao Forum Barreiro pelas ruas da cidade e as entupirem, será que se irão manter os sorrisos na cara dos nossos Vereadores e Presidente? Importar-se-ão com isso?

Quem certamente não tem muitos motivos para sorrir são os moradores da Rua Stara Zagora, que apesar de terem passeios largos e muitas árvores para levar os cãesinhos a passear perderam os seus estacionamentos e conhecem agora a “oportunidade única” de arrendar um lugar de parqueamento, na garagem do Forum a 80€ por mês.

Também não devem achar “muita piada” os comerciantes, sacrificados neste refabofe que foram os últimos meses de obras, baixaram a facturação e vêem agora todos s caminhos apontarem ao Fórum Barreiro, levando-lhes os poucos clientes que ainda conseguem ter poder de compra.

Mas acerca deste grande “sopro de progresso e de investimento salvador da cidade”, é impressionante o que se obtém se começarmos a fazer contas e juntarmos aos 750 lugares da garagem do Forum, os 250 previstos para o Mercado 1º de Maio, que estão concessionados à Multi Mall Management (MMM) por 30 anos.

Vamos considerar como exercício que a MMM consegue uma média diária de 10€/lugar, entre taxas cobradas aos visitantes, comerciantes e aqueles que arrendam os lugares em permanência, mensalmente.

Com este valor, no final de cada mês a MMM recolhe 300.000€ que se convertem, no final do ano em 3.6M€

Pois é, também eu fui confirmar estes valores para perceber como foi “penalizada” a MMM ao terem-lhe sido exigidas tamanhas contrapartidas para poder construir o seu Forum Barreiro.

Fez estas contas Sr. Presidente? Já viu que mesmo que o valor médio diário por lugar baixe para 5€, no final do primeiro ano a MMM encaixa 1.8M€ e consegue pagar as obras realizadas com os acessos ao Forum Barreiro (renovação da Avenida Alfredo da Silva e Rua Stara Zagora) e ainda começa a amortizar o que gastou/investiu no Mercado 1º de Maio?

Juntem-se a isto os previstos 30M€ que a MMM prevê facturar anualmente neste centro comercial e, quase sem fôlego, apetece-nos perguntar: “Quem fez bom negócio Sr. Presidente?” a Câmara Municipal quando, pela sua voz, soubemos, numa Assembleia Municipal, que lhes disse: “queremos que vocês construam o novo Mercado com a chave na mão, façam a Praça adjacente, façam o estacionamento em cave, construam a Avenida Alfredo da Silva e vamos ver se conseguimos outras coisas”, ou o MMM que, apesar de todo o dinheiro investido deixou para o Quimiparque a construção dos acessos mais importantes?

Mais uma vez, os “gentleman agreements” ditaram que fosse uma empresa de capitais públicos a pagar a parte pesada da factura, ficando a seu cargo a execução de uma alameda que vai transformar profundamente o parque empresarial onde se podia criar emprego, esse sim duradoiro e susceptível de criar sustentabilidade na cidade.

E que dizer do investimento no ex-campo do Barreirense que antes de arrancar já tem todas as infra-estruturas viárias de que necessita, concluídas? Quem é o promotor deste investimento, não é o construtor do “regime”?

Não tinha sido mais lógico conjugar as contrapartidas destes investimentos para rasgar uma rua (ou abrir uma avenida) no limite Sul do parque empresarial Quimiparque, com ligação ao IC21, aproveitando para resolver o problema do Bairro das Palmeiras?


Meus senhores, minhas senhoras, no entanto nem tudo é mau. O Captain Jack sabe que decorrem já negociações para construir um Corte Inglês na Rua Miguel Pais (só assim veremos esta rua arranjada), um AKI no Barreiro velho (para recuperar esta zona da cidade), um Dolce Vita na Cidade Sol (para resolver o problema da Quinta da Mina) e, embora mais atrasadas e de difícil entendimento estão as conversações com a Sonae Sierra para a construção de um mega Mall, no Bairro das Palmeiras.
O progresso vem aí, com raparigas muito produzidas que nos esperam atrás do balcão de uma qualquer loja de shopping, num Centro Comercial perto de si, palavra de

Captain Jack