Na última postagem escrevemos, sobre as conclusões a que a equipa do Prof. Augusto Mateus chegou para a reconversão do Quimiparque.
Vimos que Augusto Mateus propõe a divisão do actual parque empresarial em três zonas, das quais, apenas a primeira escapa à inclusão de habitação. Trata-se da zona que designou como Zona A e para onde pretende deslocalizar o actual porto de descarga de produtos sólidos da Atlanport e, em simultâneo, alojar um terminal de carga e descarga de contentores.
Já me parece estranho que, estando prevista para esta zona a TTT cujo tabuleiro passará a 20metros de altura, inviabilizando deste modo a utilização do Mar da Palha, como local de movimentação e fundeamento de navios em espera, se pretenda também lá fazer chegar navios porta contentores, cruzando-se em simultâneo com os de passageiros que demandam, a partir de Lisboa, o Seixal, o Barreiro e o Montijo, para além dos habituais navios tanque que descarregam combustível na LBC-Tanquipor.
E tudo é mais estranho quando se assiste à movimentação das forças da autarquia contra a AP - Amoníaco de Portugal, SA e a Fisipe – Fibras Sintéticas de Portugal, SA, que tão depressa atacam estas empresas com base na poluição que desenvolvem e do perigo que podem constituir para as populações as suas actividades como logo de seguida se lhes pede (EXIGE-SE-LHES!) que não encerrem as fábricas para não causar desemprego e ao mesmo tempo se aceite de bom grado ver, paredes meias com a vila do Lavradio, instalações portuárias que, todos sabemos, podem movimentar cargas de vária natureza, incluindo resíduos.
Que é feito do velho chavão de “devolver o rio à cidade”? Nesta zona já não é preciso devolver nada? Será isso só para a zona ribeirinha onde se quer cobrar taxas de construção?
Na Zona B admitem-se amontoar os materiais contaminados de outras áreas do Quimiparque, para depois os cobrir de vegetação e assim constituir uma barreira verde, natural.
Então a movimentação, transporte e deposição destes materiais não são nocivos para a saúde? Não serão estas tarefas susceptíveis de contaminar, por acção do vento e durante o seu transporte, as áreas envolventes? E como é que solos carregados de materiais nocivos deixam de ser nocivos quando depositados mais longe do “novo centro”? Só porque ficam mais perto da periferia e ficam escondidos com relvinha?
Quando se define a Zona B como “Zona de actividades económicas diversificadas, incluindo as actividades económicas actualmente instaladas, com exclusão das indústrias não compatíveis com meio urbano que serão deslocalizadas, eventualmente para a zona A” e se continua dizendo que é uma “Zona de charneira entre a zona A e a zona C, de usos mais tipicamente urbanos” e nela se admitem ”actividades mistas qualificadas, baseadas no conhecimento e na criatividade, serviços às empresas e às famílias e uma percentagem limitada de habitação” não vos parece, Prof. Mateus e Arqº Salgado, que temos aqui uma grande salganhada?
E quando falam em empresas com usos tipicamente urbanos referem-se a que tipo de empresas? Estabelecimentos comerciais …, consultórios médicos …, restaurantes …, estabelecimentos de consumo …, bancos…? Será uma bomba de gasolina, no vosso entender compatível com usos urbanos? E uma serralharia de alumínios, ou uma oficina de bate-chapas e pintura? E uma instalação de carpintaria e marcenaria, uma pequena instalação de fabrico de detergentes, uma oficina de montagens eléctricas e instrumentos, uma oficina gráfica, uma empresa de limpezas industriais, um estúdio de gravação e uma tipografia, são compatíveis com usos tipicamente urbanos? Não seria bom concretizar com alguns exemplos para que todos pudessem perceber melhor o que propõem?
E como vai coexistir “uma percentagem limitada de habitação” com uma instalação de produção de plásticos e de materiais de poliuretano ou de fibra de vidro? Ou com uma pequena indústria de fabrico de condutas e componentes para AVAC?
Mas surpreende-me também quando escrevem que “As actividades que se prevêem para esta zona estão na linha das que se encontram actualmente na zona devendo haver um esforço institucional no sentido de promover a instalação de actividades mais qualificadas, baseadas no conhecimento e na criatividade”.
Então em que é que ficamos? Mantemos as que estão? Atraímos outras melhores mais modernas, limpinhas e mais qualificadas? Metemos tudo ao barulho...?
Como poderão coexistir as empresas mais qualificadas, por exemplo um estúdio de cinema e televisão ou um laboratório de electrónica com uma serralharia de alumínios? Uma clínica com uma empresa produtora de rações para animais? Uma empresa de reciclagem de radiografias com um restaurante? Alguém se está a esquecer de ordenar o existente e depois partir para mais altos voos ou é impressão minha?
Curioso é também a proposta para o Bairro das Palmeiras, que fica no limite da Zona B, paredes-meias com a zona de habitação por excelência (... ou de habitação para as excelências).
Quanto ao Bairro das Palmeiras nem uma palavra. A requalificação urbana não entra aqui, até porque será estabelecida a ligação directa ao Lavradio pelo interior do Quimiparque, precisamente pela linha que divide as Zonas B e C e, desta forma, o Bairro das Palmeiras ficará escondido dos olhares. Ora todos sabemos que o que a vista não vê …
por último a Zona C (“C” de Casas e Casinhas, Construção, Centros Comerciais, etc …).
A Zona C é aquela destinada a habitação, Comércio e Serviços. Perspectiva-se para esta zona “qualificação urbana, com as actividades mais nobres, incluindo habitação, comércio e serviços” Quais? O Prof. Augusto Mateus e o Arqº Salgado apresentam um Plano de Reconversão e continuam sem concretizar nada. Dêem-nos um exemplo para podermos perceber o que entendem por actividades nobres – Hospitais de Cirurgia Cardio-Vascular, Software Houses ou Fábricas de Relojoaria e Roupas de Autor?
Sabem, no entanto, dizer o que não querem nesta zona.
E não querem “as actividades industriais e de armazenagem actualmente existentes”, o que nos leva a constatar que apontam a porta da rua à Sovena (ver anterior postagem para perceber a dimensão e importância desta empresa).
Em sua substituição propõem-se alcançar “melhor qualidade do espaço público e do edificado e a instalação de equipamentos e serviços públicos âncora que a dinamizem e que criem novos postos de trabalho”, garantindo que a “sua concretização passa pela qualificação da frente ribeirinha, pela criação de espaços públicos bem dimensionados, permitindo, através da sua malha viária resolver alguns dos constrangimentos hoje existentes no centro da cidade”.
(Que bonito … tem todos os chavões que nos são familiares nos últimos tempos – qualificação da frente urbana, espaços públicos bem dimensionados - e chegam mesmo a dizer-nos ser necessário criar uma malha viária para resolver o trânsito caótico do Barreiro, mas apontam como única solução uma ligação pela Rua da CUF, uma via existente, de 6 metros de perfil transversal, sem passeios, a desembocar, pelo interior do parque empresarial, no Lavradio.
Pelo menos o MasterPlan do Arqº Miguel Correia fazia propostas concretas, no que à malha viária diz respeito…
Mas a Zona A não se esgota nestas propostas de Habitação, Comércio e Serviços.
Para esta zona o Plano de Reconversão chega mesmo a chamar-nos a atenção para o facto de que “Uma das operações fundamentais para a criação de centralidade nesta zona é a transferência do terminal fluvial de passageiros para o actual terminal de carga (ATLANPORT) e a mudança do traçado do MST de forma a servir o novo terminal fluvial”.
Mas isto só não chega e Augusto Mateus/Risco deixam-nos a certeza que “O novo centro a criar contempla, nas imediações do novo terminal fluvial, uma grande praça urbana e uma grande praça de água. A avaliação de pormenor da contaminação dos solos e águas subterrâneas permitirá eventualmente que a função da praça de água possa ser mais ambiciosa, permitindo a entrada de barcos de recreio de grandes dimensões”.
Isto é bonito ... não concretizam nem propõem uma solução para o actual caos viário do Barreiro, mas não se inibem em acenar-nos com um cenário idílico onde nem faltam os veleiros a passear pela Av. Alfredo da Silva.
Mais grave é a questão de escala.
Proponho-vos que olhem para a figura ao lado, onde se sobrepôs ao cais da Atlanport, a actual estação fluvial e respectiva zona de parqueamento.
Cabe? Que espaço ocupa? E ainda faltam a grande praça urbana e a grande praça de água …
Mas, admitindo que estes projectos são possíveis (quando Deus quer o Homem pode!), será correcto desmantelar um equipamento construído há uma dezena de anos, como é o caso da estação fluvial do Barreiro, sem que ela tenha sido ainda rentabilizada, só porque dá mais jeito para um novo Plano Urbano?
Somos um país tão rico que nos possamos dar ao luxo de demolir o que ainda não está obsoleto só para não adaptarmos a concepção às limitações existentes e, de um ponto de vista que eu considero egoísta, gastarmos milhões que pertencem aos contribuintes para erguermos o monumento à mesma megalomania que construiu estádios que agora se encontram vazios?
Meus senhores, senhoras minhas, este capitão já não consegue aturar ideias de gente que gastou os últimos trinta anos a fazer-se ouvir, pagos a peso de ouro, mas sem mostrarem resultados práticos que não sejam este estranho modo de destruir primeiro sem nada fazer a seguir. É o Parque Mayer style, o Feira Popular Fashion ou mais recentemente o encerra maternidades way-of-life que nos tem deixado a todos mais pobres e pessimistas.
É tempo de trabalhar senhores meus, minhas senhoras, vamos fazer pela vida que o patrão precisa que o ajudemos a pagar o nosso ordenado, mas prometo-vos que a próxima postagem não irá demorar tanto como esta e irá apresentar-vos os modelos em que se basearam Augusto Mateus e sua equipa – Barcelona 22@ e Dublin Docklands – para que possam julgar por vocês se os modelos se podem/devem aplicar ao Quimiparque.
Até lá, despede-se este sempre vosso
Captain Jack
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
E o Quimiparque, já está a arder?
Postado por Captain Jack & AlmaSense às 15:35
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3 comentários:
olhe lá ó senhor capitão e se deixasse de ser retrógado e abrisse a cabecinha e a mente para coisas novas?
Quer comparar-se ao prof. Augusto Mateus? Não acha que é demasiada presunção?
Tomo a liberdade de convidar V.ª Ex.ª a visitar o meu "bloco de notas" onde encontrará alguma documentação que, estou certo, contribuirá para as suas análises sobre este projecto.
http://www.gov-ernosombra.blogspot.com/
http://www.cm-barreiro.pt/ficheiros/ficheirosassociados/Estrategia%20Barreiro-Sumario%20Final.pdf
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