A ponte vem para o Barreiro.
O LNEC apresentou ao Governo da Nação o resultado do estudo comparativo que fez sobre as duas hipóteses que lhe foram apresentadas para a terceira travessia do Tejo:
Chelas-Barreiro vs Beato-Montijo-Barreiro
mas ainda não divulgou o relatório ao país.
Entende-se que em primeiro lugar seja dada a informação ao “patrão” mas os que pagam também têm o direito de saber porque é que têm que pagar e, sobretudo devem ser informados, para que não hajam dúvidas que estão a pagar a solução mais adequada.
Ao contrário de outros barreirenses, a ligação directa do Barreiro a Lisboa, nestes moldes, não me agrada mas reservo a minha opinião para quando puder ler o relatório do LNEC que defende esta opção. Espero que o próximo programa “Prós e Contras”, de 7 de Abril, onde será debatida esta escolha, possa também ajudar-me a entender a decisão que foi tomada.
Correndo o risco de estar a analisar de forma incorrecta a solução, até porque não sou especialista em urbanismo, ordenamento do território ou transportes, parece-me contudo que a solução da CIP, estudada pelo Prof. José Viegas e que reúne o consenso da maior parte dos maiores especialistas portugueses na matéria, seria aquela que mais vantagens traria à Margem Sul.
Com a prevista ligação Barreiro-Seixal cujo projecto já foi pago pela Siderurgia e Quimiparque, para que toda a margem sul esteja ligada entre si, de modo mais directo, para potenciar sinergias, falta apenas a ligação Barreiro-Montijo, proposta pela opção do Prof. Viegas.
Esta era, aliás, o plano que António Guterres defendeu quando se construiu a Ponte Vasco da Gama no Montijo. Pretendia-se, na altura, lançar as bases do futuro anel do Metro da Margem Sul, a sair de Lisboa pela Ponte 25 de Abril, estabelecer a ligação ao Lavradio e, numa segunda fase, construir a entrada em Lisboa pelo Montijo.
Aceita-se que, n mundo em que vivemos, a realidade e os parâmetros mudem por completo em 10 anos mas, não duvidemos que esta ponte é um convite directo à deslocação em transporte privado e à suburbanização do Barreiro, como cidade mais dependente de Lisboa.
Se agora os nossos filhos quando querem ver cinema vão para Lisboa, depois seremos nós que lá iremos até para cortar o cabelo …
O Presidente Carlos Humberto diz que acredita que assim não seja assim e afirma que esta ponte “vai ajudar a concretizar o Barreiro como m pólo económico e de emprego, aproveitando os cerca de 300 hectares públicos da Quimiparque” (in jornal Margem Sul de 4 Abril 2008).
Se a esta afirmação juntarmos o que conhecemos do Plano de Reconversão deste território, permitindo que sejam ocupados praticamente metade dos seus 285 hectares com habitação (comércio e serviços, segundo também se promete) – ver figura onde a parte encarnada está definida como área destinada a habitação (clicar para ver aumentado).
Esta Ponte para além de ser o caminho mais curto para e de Lisboa pode muito bem ser o caminho para que outras “Kianas” off-shore possam aparecer a comprar os, agora cada vez mais, valiosos terrenos do centro da cidade e em particular os do Quimiparque, até porque muita gente confunde progresso, qualidade de vida e nível de desenvolvimento de uma cidade ou região, com o número de edifícios ou de habitantes que possui. Nada mais errado. Se assim fosse deveríamos considerar Delhi, na Índia, mais desenvolvida que Oslo ou Londres e New York menos desenvolvida que Xangai.
É este erro que parece estar a servir aos nossos autarcas para confundir a população e confundirem-se também a eles próprios, quando nos apresentam a Ponte como a solução para a perda de habitantes do Barreiro ou como remédio para a falta de empregos no concelho. Foi assim no Montijo ou em Alcochete?
É evidente que a nova ponte Chelas-Barreiro trará mais habitantes para o Barreiro, mas não é líquido que traga, só por si mais investimento.
Para quem defende a continuidade da actividade empresarial no Quimiparque é estranho como o nosso executivo camarário permanece inactivo enquanto por todo o país se assiste à criação de parques empresariais, com o empenho das diversas autarquias.
Em Novembro de 2007 nos Vales do Lima e do Minho existiam 22 parques e pólos empresariais responsáveis por 10 000 postos de trabalho. Em Vila Nova de Gaia a autarquia apostou na criação do Parque Empresarial de S. Félix da Marinha, no de Perosinho e no de Sandim. A câmara de Guimarães lançou-se na criação do Parque de Ciência e Tecnologia – AvePark, Almada apostou no Madan Park, a Covilhã no ParkUrbis e o TagusPark foi aposta ganha em Oeiras.
No Barreiro assiste-se à pressão imobiliária sobre as zonas nobres da cidade e em especial sobre o Quimiparque, aceitando a boleia que a própria administração desta empresa estatal, foi dando.
Enquanto noutros concelhos as infraestruturas empresariais não existem e são criadas para tornar as cidades sustentáveis, no Barreiro vendem-se “novas centralidades” em formato “Fórum” e contratam-se especialistas catalães para justificar obras que descaracterizam imóveis como o actual Mercado 1º de Maio.
Curioso como em Barcelona, no projecto de reconversão do bairro de Poblenou, o famoso 22@Barcelona, houve a preocupação de salvaguardar 144 referências às antigas actividades industriais desenvolvidas neste bairro e, no Barreiro, o projecto de Joan Busquets, faz esquecer a arquitectura de arcos de ferradura nas janelas e portas, característica do período romântico de finais do século XIX, mantendo as fachadas menos expressivas e mais adulteradas.
Parece ser o reescrever da história, tão comum nesta cidade, desde o 25 de Abril. O eliminar de referências históricas da cidade, como é o caso da mudança da estátua de Alfredo da Silva, para apagar as memórias do passado, como se dele tivéssemos dever ter vergonha ou quiséssemos esconder alguma coisa.
O passado deve assumir-se e ser interpretado no contexto em que se insere e foi vivido. Mas compreende-se que possa ser incómodo para alguns que, sequiosos de o ver esquecido, tentam, não “em perigos e guerras esforçados”, mas com obras megalómanas, serem recordados (“da lei da morte se vão libertando”, disse o poeta).
É estranho que, com tal vontade de fazer história, o nosso executivo camarário se tenha esquecido de propor ao governo, há semelhança do que têm feito muitos empresários e presidentes de outras autarquias, em situações idênticas, a classificação do território do Quimiparque como ALE (Áreas de Localização Empresarial).
Os nossos políticos barreirenses não sabem o que é? Eu passo a explicar …
Em 1997, o Dr. Pina Moura, através do Sr. Secretário de Estado Fernando Pacheco, criou e legislou uma solução que contemplava um conjunto de soluções integradas visando a instalação de empresas em zonas vocacionadas para o efeito (ALE) e onde o licenciamento industrial, ambiental, abastecimento de energias, gestão física de resíduos, tratamento de esgotos, manutenção e conservação de espaços exteriores, encontravam resposta numa estrutura vocacionada para o efeito, que tinha como missão a gestão de cada Parque Empresarial.
As ALE apresentam-se como a solução para os “Loteamentos Industriais”, como lhes chamamos, e devem contemplar um conjunto de soluções integradas para o estabelecimento de empresas, a criação de emprego, racionalização de custos energéticos, de criação de sinergias regionais, disciplinadoras e reguladoras da actividade empresarial.
Sendo o Quimiparque uma empresa do Estado, dirigida por gestores que se movimentam bem nos corredores do poder político, uma vez que do seu conselho de administração fazem parte um antigo secretário de estado e um ex-ministro da saúde, recentemente regressado à ribalta política, como apoiante do líder da oposição, parece-me que seria fácil, em parceria com o poder local, conseguir este estatuto.
Mas será que esta hipótese agradaria a gregos e a troianos, quero dizer, à Quimiparque e ao executivo camarário?
Estou em crer que não e, curiosamente, pela mesma razão.
Para a administração do Quimiparque e para o accionista da empresa, o negócio atractivo não é criar emprego e gerir um parque empresarial, mas sim alienar património do Estado para fazer um encaixe rápido de capital, cumprir ou mesmo ultrapassar objectivos definidos e juntar ao curriculum pessoal mais um desempenho de sucesso.
Pelo caminho ficarão alguns desempregados, coisa pouca, se pensarmos no que significa uma operação de encaixe de capital bem sucedido para o accionista, a possibilidade de uma promoção e menos um afazer que nos obriga a sair do luxuoso gabinete, na capital, para o subúrbio, despendendo tempo que poderia ser ocupado de outra forma, talvez até com a gestão de um, hipotético, negócio particular.
Para a autarquia a “coisa” pode colocar-se no mesmo pé, mas por caminhos diferentes.
Se os terrenos do Quimiparque fossem destinados à instalação de novas empresas as taxas de construção a cobrar seriam muito inferiores aquelas que resultam da construção de edifícios para habitação (comércio e serviços, já me esquecia desta particularidade).
Estão, pois, em jogo, muitos milhões de euros e a ponte Chelas-Barreiro só vem potenciar o que já se concretizou “lá para as bandas” de Montijo e Alcochete, isto é, “bué da” construção.
A ponte Chelas-Barreiro permitirá também o sucesso de empreendimentos imobiliários como a Urbanização do Campo das Cordoarias, incluindo o Fórum Barreiro, da Urbanização da Ribeira das Naus, não só a fase já construída mas aquela que se estende até ao Polis, da Quinta de S. João Sul, do Pinhal da Vila Chã, do Alto do Romão, da Urbanização dos Sete Portais e a da grande urbanização do Quimiparque, que garantirá negócio por muitos e bons anos, a preços muito acima dos actualmente praticados.
Senhores meus, minhas senhoras, este vosso amigo deseja muito estar enganado quanto ao futuro que nos espera mas concorda inteiramente com as palavras de Carlos Humberto quando, acerca da ponte, diz que “não é o fim de um combate mas o início de uma nova fase”. Resta saber se não serão outra vez os mesmos a ganhar.
Sempre vosso
Captain Jack
2 comentários:
O Relatório do LNEC foi desde logo disponibilizado na net. Pelo menos o "Público" tinha o link disponível junto à notícia...
Felicito-o pela qualidade do blog. Esplêndido.
Compartilho as preocupações com o desordenamento causado pela trânsito automóvel na nova TTT pelo corredor central.
Lamento não ter sido estudada e explicada aos Barreirenses a solução Barreiro (Lavradio/Barra-A-Barra) - Montijo - Lisboa, com ligação pelo Metro de superfície do Barreiro/Lavradio ao Pinhal Novo.
Pessoalmete prefiria pegar um touro - Lisboa - de cernelha. De caras deixo-o para o meu primo pois tem experiência nas largadas na Moita e no Montiho.
Por favor exijam a ponte rodo-ferroviária para o Seixal.
Com saudades.
António Correia Nunes
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