Ao longo dos últimos dois anos temos assistido a um desfile de ideias megalómanas que, a reboque da mais despudorada demagogia, vão enchendo as páginas dos jornais barreirenses e dando a volta à cabeça daqueles que tendem a confundir a realidade com a miragem.
Foi assim com a Terceira Travessia do Tejo (TTT), que até hoje nenhum dos responsáveis autárquicos teve a coragem de divulgar até que ponto irá retalhar o Barreiro, para que possamos continuar a ver passar os comboios que vão para o Sul, sem pararem em nenhuma das estações que ainda ficaram de pé.
Foi assim com a megalómana avenida que Augusto Mateus propôs construir no lugar da linha-férrea que atravessa a cidade onde ainda hoje passa e no futuro continuará a passar a linha do Alentejo. A propósito, aliás, veja-se o terminal ferroviário que a REFER está a construir junto da estação do Barreiro-Mar, com três linhas e duas plataformas de passageiros, no âmbito da empreitada de electrificação da linha do Alentejo.
(...) O objectivo é “melhorar a interface do modo de transporte ferroviário com os modos de transporte fluvial e rodoviário, já existente no Barreiro”, explica a REFER.
(...) Ainda no quadro da electrificação da linha do Sado está previsto que a muito curto prazo avance a construção de uma passagem superior pedonal, junto ao Bairro das Palmeiras, para substituição da existente, que não tem altura suficiente para permitir a electrificação do traçado.
In Jornal “Sem Mais” edição de 13 de Setembro de 2008
A avenida que Augusto Mateus via como tendo quatro faixas, separador central, largos passeios e talvez até uma ciclovia, um percurso verdejante de árvores por onde os barreirenses circulariam em direcção ao novo centro (Forum Barreiro e empreendimento imobiliário do Quimiparque, entenda-se) qual Via Diagonal de Barcelona, ficará, pelos vistos, adiada, para deixar passar os comboios para o Pinhal Novo.
A grande estação interface ferro-rodoviária a construir algures sobre a Escola Álvaro Velho, outra das ideias propostas por Augusto Mateus no seu célebre Plano de Reconversão do Quimiparque (que eu nunca percebi porque tinha que passar para o exterior deste território) e que ficaria desligada do transporte fluvial, tão importante para os milhares de pessoas que o utilizam diariamente, parece afinal ter mudado de sítio para o local agora ocupado pela garagem dos TCB, não para poupar edifícios de habitação mas porque assim o decidiram a REFER/RAVE/CP.
A célebre Cidade do Cinema, que os nossos autarcas “exigiram” tornar-se em projecto PIN+, com sucessivas e inconclusivas reuniões, continua a aguardar que o promotor entregue o Dossier de Projecto, situação que tem vindo sucessivamente a ser adiada.
Na última versão falava-se em Agosto. Foi entregue?
De tudo isto uma coisa parece ser certa. Qualquer perspectiva para futuro do Barreiro passa sempre pelo Quimiparque. Foi lá que se construiu a nova esquadra de polícia, é lá que se está a construir o novo quartel dos Bombeiros Sul e Sueste, é por lá que irá passar a ligação viária ao Forum Barreiro; também é para lá que se mudaram já alguns serviços da Câmara Municipal do Barreiro e outros se lhe seguirão, (ao que parece quando a megalomania couber dentro do orçamento da Quimiparque, SA) e teve também que ser esta empresa, cujo único accionista é o Estado, a doar o terreno para a construção da ETAR e a suportar os custos de movimentação de terras, há um ano atrás.
Não será este interesse e fé nos poderes mágicos do Quimiparque devido apenas aos cerca de 300 hectares de terreno de que esta empresa é proprietária?
“Nós queremos ser uma centralidade na Área Metropolitana de Lisboa, uma centralidade com qualidade, e o elemento mais importante é a Quimiparque. Tudo o resto os outros concelhos têm, o que nos diferencia dos outros concelhos será o que conseguirmos fazer na Quimiparque. É o elemento determinante para o desenvolvimento económico do Barreiro.”
Carlos Humberto ao Jornal “Notícias do Barreiro”, edição 3 de Setembro de 2008
Estará o Senhor Presidente a pensar nos 40% de fogos devolutos ou por vender, existentes no concelho do Barreiro, ou nas taxas que a autarquia pode arrecadar, com tamanho “desenvolvimento”?
(...) “A ETAR pode levar a que daqui a alguns anos se possa tomar banho no Barreiro, admito que talvez daqui a dois anos.”
Carlos Humberto ao Jornal “Notícias do Barreiro”, edição 3 de Setembro de 2008
Quem sabe, Senhor Presidente, se a ETAR não lhe permitirá tomar banho no Clube Naval daqui a alguns anos, mas para isso terá que começar a ser construída, começar a trabalhar e haverá que dar tempo a que o rio recupere. Isso não se consegue por decreto como também não se consegue construir o hotel que, o senhor, também acredita vir a existir no Barreiro daqui a... dois anos.
E se, à semelhança dos terrenos contaminados do Quimiparque, o rio também o estiver? Já pensou o que pode acontecer quando milhares de metros cúbicos de água começarem a ser atirados ao rio e os fundos lamacentos, eventualmente contaminados com metais pesados, começarem a ser revolvidos pela intensidade de tamanho caudal?
O seu executivo dispara em todas as direcções, Senhor Presidente, parecem-me aqueles caçadores que no primeiro dia de caça atiram a tudo o que mexe... e falham.
[As obras da Avenida Alfredo da Silva] “(...) Incluem, igualmente, o alargamento dos passeios, a plantação de quase uma centena de árvores próprias para zona urbana e a colocação de mobiliário urbano.”
In comunicado da CMB de 25 de Agosto de 2008
(...) Na avenida os passeios vão ser alargados em 2.5 metros cada, vão ser colocadas 100 árvores em cada um dos passeios, todas com um ponto de luz, e serão criadas três zonas de iluminação mais forte, numa avenida onde a velocidade máxima será 30 quilómetros, com o estacionamento proibido em toda a sua extensão.”
(...) “Toda a intervenção [na Av. Alfredo da Silva] tem como objectivo tornar o centro mais atractivo para peões, comércio e lazer. Queremos ser uma centralidade na Área Metropolitana de Lisboa e para isso temos que ter um centro forte e dinâmico (...)”
“Seis metros de estrada dão para passar dois autocarros ao mesmo tempo.”
Carlos Humberto em conferência de imprensa de 2 de Setembro de 2008
“Existem várias ruas do Barreiro com 6 metros onde se cruzam autocarros, mas nós acompanhamos a obra e falamos com as pessoas e decidimos alargar a estrada em mais meio metro, pois na opinião das pessoas podia haver problemas.”
In Jornal de “Notícias do Barreiro”, edição de 10 de Setembro de 2008
[acerca do alargamento de meio metro da nova avenida Alfredo da Silva] “Segundo Carlos Humberto, na rua as opiniões são ouvidas e tidas em conta, pelo que a decisão do executivo passou por conciliar a análise técnica com o sentimento da população”
In “Jornal do Barreiro”, edição de 5 de Setembro de 2008
“Características do novo centro serão ser um centro construído para o peão, onde a circulação automóvel será reduzida a 30Km/h – embora continue nos dois sentidos – e onde o estacionamento será limitado, apenas com 15 pontos de cargas e descargas, equivalente a cerca de 25 carros.”
In “Jornal do Barreiro”, edição de 5 de Setembro de 2008
(...) “para que o Barreiro cresça e seja um Concelho para trabalhar e viver”
In Primeira Opção Participada 2008 com os trabalhadores do DPGU, 2 de Setembro de 2008
“(...) prevendo-se que os trabalhos de pavimentação terminem no início de Outubro. Já no início de Novembro deverá encontrar-se concluída a intervenção nos passeios da Avenida Alfredo da Silva.”
In Comunicado da Câmara Municipal do Barreiro relativo às obras da Av. Alfredo da Silva de 9 de Setembro de 2008
(...)”concluir até meados de Outubro o que é via rodoviária. (empreitada concluída) na primeira ou segunda semanas de Novembro. [o atravessamento do Quimiparque] não estará concluído antes do fim do ano”
(As obras da Av. Alfredo da Silva) “têm decorrido muitíssimo bem e de forma profissional, apenas com um pequeníssimo atraso de dias”
Carlos Humberto em conferência de imprensa de 2 de Setembro de 2008
“A Inspecção Geral do Trabalho deslocou-se à obra a pedido do delegado de saúde do Barreiro (...). Uma vez no local tudo foi inspeccionado, motivo que levou à suspensão parcial das obras na Avenida devido às condições de segurança no trabalho.
Segundo a vereadora Sofia Martins, a razão das obras em profundidade terem sido suspensas prendeu-se com a ‘situação das valas dos colectores principais’
In “Jornal do Barreiro”, edição de 5 de Setembro de 2008
“Estavam a fazer as obras sem segurança, já tinha dado ordem para se terminar a actividade, o encarregado mandava retirar os homens do local, mas quando virava costas colocava-os lá a trabalhar na mesma.”
Os problemas segundo Mário Durval estavam relacionados com os trabalhos que se realizavam em profundidade, em valas com cerca de 4 metros e com o uso de máquinas pesadas a circularem ao mesmo tempo e no mesmo local, o que é proibido.”
In “Jornal do Barreiro”, edição de 5 de Setembro de 2008
Ah, Senhor Presidente as obras... as obras, Senhor Presidente, sinónimo de evolução e progresso, numa cidade onde os velhos são esquecidos em bairros decrépitos cheios de prédios que desafiam a gravidade.
Mas que importa isso agora, desde que o nosso Forum Barreiro se torne realidade em Novembro? Pouco importa que o acesso ao Forum Barreiro seja feito por um túnel escavado sob uma rua pública. Também pouco importa a forma como se faz o acesso e se sai dos pisos de parqueamento e tão pouco interessam os direitos dos munícipes da Rua Stara Zagora que viram o seu estacionamento destruído, sem alternativa.
“O Centro do Barreiro dentro de algum tempo será motivo de satisfação. A sua requalificação, pensamos que trará mais qualidade de vida às populações e permitirá revitalizar o comércio tradicional e consolidar aquele local da cidade como uma grande praça de socialização das gentes da nossa terra.”
In Editorial de “Informação da Câmara Municipal do Barreiro”, de Agosto de 2008
E como explicar, Senhor Presidente, que a mesma Rua Stara Zagora permaneça, praticamente desde o início das obras sem iluminação nocturna, esquecendo-se a Câmara Municipal que garantir a segurança dos cidadãos também é um dos deveres da autarquia que o senhor dirige?
E que nos pode dizer da densidade de construção da Quinta das Cordoarias? Já reparou como o construtor “oficial do regime” conseguiu esconder à sombra do Forum Barreiro um enorme empreendimento imobiliário habitacional (Quinta das Cordoarias, antigo Estadio do Barreirense e a zona habitacional do próprio Forum)?
Deixe-me Senhor Presidente acabar esta postagem com duas perguntas:
Porque razão se estão a colocar colectores para as águas pluviais sem, no entanto, se construírem sumidouros ou sarjetas? (Em toda a nova Avenida Alfredo da Silva existem 5 ou 6 sumidouros).
Com uma “AVENIDA” de 6,5 metros de largura, lugares de paragem para cargas e descargas com menos de 2 metros de largura, que obrigarão a que os veículos de mercadorias estacionem com parte do rodado dentro da faixa de rodagem, como irão circular as ambulâncias, carros de bombeiros e da polícia em serviço de emergência? Quem lhes dará passagem e como?
Minhas Senhoras, meus Senhores, de uma coisa não tenho duvidas: não sei se teremos um Barreiro melhor mas teremos, certamente, um Barreiro diferente!
Sempre Vosso
Captain Jack
3 comentários:
Boa noite,
Bom post, com o trabalho de casa bem feito.
Vamos ter, certamente, no final deste ano, muito por escrever sobre o que está a acontecer no centro do Barreiro.
Mas como o Barreiro não se resume ao Forum e Av. Alfredo da Silva, será necessário estar atento ao restante Concelho.
Cumpts
Zé Ferradura
Parabéns pelo bom trabalho que tem feito e que assim continue a investigar e a informar-nos!
Particularmente interessante a frase que escolheu e citou da opção participada, no sentido de que o Barreiro cresça e seja um lugar para trabalhar e viver. Digo eu, provavelmente terá sido dita a pensar nos consultores do executivo, com bons ordenados que justifiquem o discurso da tanga...
Cumprimentos
Sr. Capitão
depois de ler o seu exto de 21 deste mês estive a passear pela avenida e a ver com atenção e reparei que tem razão. O arquitecto esqueceu-se das sargetas. Há pouquissimas. Outra coisa engraçada que me disseram é que tiveram que alargar a curva à beira do Totta para os autocarros darem a curva.
Começo a achar que querem reduzir o Barreiro ao Forum e aos prédios que vão ser construídos na Quimiparque.
Cumprimentos
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