Com o pretexto de recuperar a bela Elena, seu pai, o Rei Minelau, reuniu os exércitos das cidades-reino da Grécia que havia conquistado, e marchou sobre Tróia para resgatar a filha e defender a sua reputação de líder temido.
Longo tempo demorou o cerco até que, não podendo vencer pela força os determinados e bem organizados guerreiros de Tróia, o fez recorrendo a uma astuciosa artimanha. Simulando a retirada, Minelau abandonou no terreno uma falsa estátua de madeira representando um cavalo que escondia no interior Aquiles e alguns dos seus melhores guerreiros.
Pensando que o exército invasor havia desistido foram os próprios habitantes de Tróia que levaram para o interior da cidade esta falsa estátua. A coberto da noite Aquiles e os seus guerreiros saíram do interior da estátua, franquearam os portões da cidade ao exército de Minelau que entretanto regressara à ilha e destruíram a cidade.
Esta manobra ficou na história como a forma mais astuciosa de dominar uma cidade ou uma organização a partir do seu interior. Séculos mais tarde são conhecidas as manobras de estratégia militar que se apoiam nas unidades de reconhecimento que, infiltradas em território inimigo, quais Cavalos de Tróia, passam informações ou atacam alvos importantes.
Na altura da Guerra Fria, ambas as potências de então - EUA e URSS - usaram estratégias similares, infiltrando agentes, as célebres toupeiras, que passavam para o exterior das respectivas organizações/sociedades onde estavam inseridos, informações consideradas vitais.
Já mais recentemente o conceito foi recuperado e aplicou-se também à actividade informática, com o desenvolvimento de pequenas aplicações de software que, uma vez no interior de um computador, apagam informação ou, simplesmente, o tornam acessível e vulnerável a partir do exterior. Genericamente designados por vírus, alguns tomam mesmo a designação de Troianos, fazendo-nos recordar a eficácia de Aquiles e dos seus guerreiros.
O Cavalo de Tróia continuará sempre presente enquanto houverem interesses escondidos ou pessoas desonestas dispostas a recorrerem a este tipo de estratagema.
O Cavalo de Tróia está presente no Barreiro e o seu efeito é visível no recentemente aprovado Plano de Urbanização (PU) e nos 300 hectares do Quimiparque previstos reconverter como convém ao Rei Minelau, seja ele quem for.
É precisamente a dúvida quanto à identidade do Rei Minelau que torna tão difícil desmascarar todo o estratagema que vem envolvendo esta cidade, num laço muito estreito entre o que é o interesse de determinados construtores civis, o interesse da Câmara Municipal e o de certos intervenientes com interesses na actividade imobiliária a gerar por este pretenso desenvolvimento que assenta, não na melhoria do que está degradado mas, na destruição do que existe, funciona e tem potencial para ser melhorado.
Olhando para o recente Plano de Urbanização que a Câmara Municipal aprovou em 9 de Abril de 2008 e que, curiosamente apesar de estar em curso o período de trinta dias destinado à discussão pública, ainda não está disponível para consulta no site da autarquia, é difícil perceber a lógica de abranger nesta operação uma zona tão extensa e esquecer o Barreiro Velho.
Porque se deixou ficar de fora o Barreiro Velho, uma das mais degradadas zonas da cidade? Não seria uma oportunidade para o renovar (ou reconverter)?
Percebe-se que, numa altura em que os Arautos falam de novos acessos, rodoviários e ferroviários, da Terceira Travessia do Tejo, do atravessamento do Quimiparque para fazer chegar os clientes ao Forum Barreiro e os compradores à urbanização da Quinta das Cordoarias, da anunciada estação intermodal a construir algures na zona da Escola Álvaro Velho e do Complexo desportivo do Grupo Desportivo Fabril, de “novas centralidades” e de novos desafios, as zonas afectadas por todo este “reboliço” mereçam uma atenção especial. Não seria, no entanto, de aproveitar o balanço para estender a dinâmica que se pretende gerar, também ao Barreiro Velho? Ou mesmo, começar por aqui?
Vamos a Barcelona buscar o catalão Joan Busquets para nos projectar um Mercado novo e reformular a Av. Alfredo da Silva, apesar de nela termos gasto 70.000 contos (350.000€) há apenas 4 anos, com a pavimentação dos passeios. Porque não o aproveitamos para recuperar o Barreiro Velho e deixamos a Av. Alfredo da Silva como está?
Já que “está cá” o Arquitecto Joan Busquets, a Risco, SA dos irmãos Salgado (filhos de Manuel Salgado, que em tempos desenvolveu a pedido do então Presidente da Autarquia, Pedro Canário, um projecto de reconversão para o Quimiparque que previa a sua utilização para produção de energias renováveis), convida-o também para ser o coordenador geral do Plano de Urbanização para o Parque Empresarial do Quimiparque.
Este projecto poderá custar aos cofres da empresa, segundo afirmam os conhecedores, cerca de 120.000 contos (600.000€). Já antes, o saudoso Masterplan desenvolvido pela Ideias do Futuro, custara a esta empresa idêntico valor para ser deitado ao lixo quando foi substituído pelo recente Plano de Reconversão do Quimiparque.
Por este trabalho a Risco, SA facturou cerca de 100.000 contos (500.000€).
A Quimiparque é uma empresa com um único accionista – o Estado – através da Sociedade Parpública. Não admira por isso que tenha aceite entrar numa espiral de investimentos, dos quais ainda não viu resultados práticos a não ser a degradação do seu parque empresarial, no Barreiro.
Foi a Quimiparque que suportou os custos da movimentação de terras, no Lavradio, para construção da ETAR Barreiro-Moita que tarda em tornar-se realidade, mal grado a prontidão com que a empresa de capital público desembolsou 200.000€ (40.000 contos).
No curriculum de gastos suportados pela Quimiparque pontuam ainda a cedência e pagamento dos trabalhos de remodelação do antigo refeitório da zona têxtil, destinado à futura esquadra da PSP-Barreiro (650.000€ - 130.000 contos), os custos estimados em 500.000€ - 100.000 contos para preparar dois edifícios que serão doados à corporação de bombeiros voluntários do Sul e Sueste, os encargos a suportar com a remodelação integral da antiga fábrica da Sotinco para a ceder aos serviços da Câmara Municipal do Barreiro (valor estimado em 2M€ a 3M€ - 400.000 contos a 600.000 contos) e como se tudo isto não fosse suficiente ainda lhe caberá ter que pagar a adaptação da travessia do arruamento interno que ligará, a partir do final de 2008, o Forum Barreiro ao Lavradio, com a correspondente alteração do antigo Largo das Obras e a implantação da estátua de Alfredo da Silva no centro da nova rotunda viária que aqui irá nascer.
Novas Vias urbanas para servirem
o Forum Barreiro e a Quinta das Cordoarias
(Clicar para ampliar)
Quem é o Rei Minelau que mandou cercar o Quimiparque?
Quem são os guerreiros que “entraram” pelos portões do Quimiparque na barriga deste Cavalo de Tróia?
Por que permite o accionista da Quimiparque que se gaste tanto dinheiro sem contrapartidas?
É verdade que a Staples Office não obteve permissão da câmara para se instalar no Salis Park e optou por se instalar no Montijo?
Como se explica que os candidatos a compradores de lotes no loteamento industrial Salis Park, pertença da Quimiparque, tenham que esperar cerca de ano e meio até conseguirem o licenciamento camarário para se instalarem neste local, quando qualquer construtor consegue começar a construir, meia dúzia de meses após a recepção provisória das infra-estruturas ou, como é o caso da Quinta das Cordoarias, começam a construção ainda antes de estas estarem concluídas?
Como se lembram os que nos lêem, relativamente a este empreendimento, ainda recentemente o trânsito no cruzamento da Av. Alfredo da Silva com a Rua Miguel Bombarda, sofreu graves condicionamentos para que, finalmente se pudessem executar as ligações necessárias às redes de infra-estruturas existentes.
Em Agosto de 2007, quando já decorriam os trabalhos de construção do edifício onde funcionará o Forum Barreiro, houve uma ruptura na canalização de gás, quando se executava a conduta de água para abastecimento à Quinta das Cordoarias.
As infra-estruturas não estavam concluídas, na altura, ainda não estão provisoriamente recepcionadas, hoje, mas a obra já atingiu a fase do reboco das paredes.
Como explica a Câmara Municipal que o promotor com quem assinou o contrato de urbanização da Quinta das Cordoarias, a quem incumbia a realização das infra-estruturas viárias de acesso ao Forum Barreiro, tenha conseguido ver transferida esta responsabilidade para a empresa de capital público, Quimiparque (ver links no fim da postagem), que irá ceder terrenos e pagar a nova rua que ligará este empreendimento ao Largo das Obras e daqui ao Lavradio, pelo interior da sua propriedade?
Quem ganha com toda esta estratégia de transformação/destruição do Quimiparque, único local do concelho verdadeiramente concebido para instalar empresas e dar trabalho?
Quanto “factura” a autarquia por cada alvará de construção para habitação e quanto “factura” para a construção de um armazém ou da sede social de uma empresa?
Quantos edifícios de habitação cabem em 300 hectares e quanto “facturará” a Câmara Municipal por esses alvarás? E quantos armazéns ou instalações industriais cabem nessa mesma área e qual o valor desses alvarás?
Depois da conquista de Tróia, Minelau não recuperou a sua filha Elena, mas esse aspecto passou a ser secundário uma vez que a invencibilidade do velho Rei continuou a ser espalhado aos quatro ventos pelos Arautos.
Tróia ficou destruída e nunca mais recuperou. A ideia do Cavalo de Tróia é atribuída a Aquiles mas é bem provável que tão fantástico guerreiro não tivesse outras capacidades que não habilidade e arte no manejo das armas.
Minhas Senhoras e meus Senhores é sabido que no jogo da vida não podemos mudar as cartas que nos dão, mas somos livres de escolher a forma como as jogamos.
E vocês, como é que escolhem jogar as cartas que têm na mão?
Sempre Vosso
Captain Jack
PS - A próxima postagem será sobre a Estátua de Alfredo da Silva.
É para ficar onde está, qual é a dúvida?
A 11 de Maio 2008 um amigo enviu-nos estes links que têm bastante interesse dê-lhes um olhinho: