segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O que vão "eles" fazer do nosso Rio?


No seguimento do longo processo de reconversão da área do Quimiparque, que ainda ninguém percebeu a quem interessa mais, se ao accionista (Estado, via Parpública) se à autarquia barreirense, que não hesita em apresentar-se em todo o lado como signatário principal do processo, deixando à empresa do Estado o prazer de pagar a “conta”, a APL foi “convidada” a dar a sua contribuição para o referido estudo.

Desde o início que ouvimos o Prof. Augusto Mateus defender ideias e propostas que envolviam o Rio e a sua margem, nomeadamente a alteração da localização da actual estação fluvial para o interior do Quimiparque.

O próprio Metro Sul do Tejo (MST) teria a sua estação no mesmo local, criando um interface ferro-fluvial. Em todo este processo a Nova Cidade do Barreiro seria rasgada por um ampla avenida, aproveitando o que hoje é a área ocupada pelo terrapleno da linha férrea do Alentejo.

Decorridos todos estes meses em que se multiplicaram as reuniões e se ampliou a equipa de trabalho, que engloba agora a Parque Expo além de diversos técnicos da Câmara Municipal do Barreiro e alguns quadros de topo da Quimiparque, começam a surgir propostas de diversas entidades a quem foram solicitados estudos de possíveis soluções para zonas que directamente lhes interessem.

É o caso da APL (Administração do Porto de Lisboa) que, tendo contratado a Consulmar, a Bruno Soares Arquitectos e a DHV, apresentou o Estudo de Soluções Portuárias para a Área de Jurisdição da APL no Barreiro, que se debruça especificamente sobre as zonas actualmente exploradas pela Atlanport e LBC-Tanquipor.

Este Estudo apresenta uma solução que prevê a criação de uma frente portuária que não só integra as actividades existentes como também propõe a criação de uma área logística multimodal de mercadorias.

No Estudo desenvolvido a pedido da APL, todas as soluções apontadas assentam no pressuposto de que a altura útil para navegação, imposta pela TTT (Terceira Travessia do Tejo), não será inferior a 26.5 metros, para permitir a passagem de barcaças que possam transportar a sucata actualmente descarregada no porto do Quimiparque para a Siderurgia Longos.

Pela primeira vez se admite, e mesmo assim de forma confidencial, o facto de o Rio Tejo perder a sua capacidade de navegabilidade para montante da TTT para barcos que não sejam de pequeno calado.

Mas o que marca este estudo, numa altura em que tanto se fala da “muralha” de contentores que a Liscont pretende erguer em Alcântara, não é a perda de navegabilidade do Rio Tejo mas antes a possibilidade, apresentada como “uma oportunidade única na região” e “cujas “potencialidades interessa avaliar”, de criar uma área logística associada ao Porto de Lisboa.

A APL apresenta três possíveis soluções, tendo todas em comum a criação de terminais fluviais de contentores e de parques logísticos industriais de médio porte. O que difere nas alternativas apresentadas é a solução encontrada, em cada uma delas, para as actividades da Atlanport e da LBC-Tanquipor.

Numa primeira hipótese a APL propõe a manutenção da Atlanport no mesmo local onde agora se encontra mas construindo em aterro, um terrapleno de 6 hectares com cais acostável de 380 metros, para descarga de granéis sólidos (fundo a 8.5 metros) e outro cais (fundo a 5 metros) para carga de granéis sólidos, em barcaças.

O cais da LBC Tanquipor é deslocalizado 850 metros para jusante, relativamente à sua actual localização, sendo nesta proposta constituído por uma série de duques d’Alba (espécie de poitas ou maciços de amarração), fundo a 10 metros e uma plataforma de condutas para carga e descarga de grainéis líquidos.
A segunda e terceiras alternativas apresentadas, têm o mesmo modelo. A Atlanport abandona as suas actuais instalações, passando a operar imediatamente a jusante da TTT, numa plataforma com 7.3 hectares, duas frentes acostáveis, respectivamente com 380 metros de extensão e fundo a 8.5m e uma outra com 270 metros de extensão, fundo a 5.0 metros.

Refere ainda o estudo que esta plataforma acostável está destinada à “descarga de granéis sólidos (fundamentalmente sucata)”. Esta sucata será descarregada directamente dos navios que acostam nos (dois) cais de 8.5m de fundo e tornados a carregar em barcaças, único barco possível de acostar no cais -5.0m ZH, para serem transportados à Siderurgia Longos.

A LBC Tanquipor terá um ponto de acostagem, 320 metros a poente do porto da Atlanport, sendo a descarga, fundamentalmente de combustíveis líquidos, conduzida às suas instalações através de um sistema de condutas com 1400 metros de extensão.


Teria sido este factor que motivou a preferência pela Alternativa 3, por parte da Câmara Municipal e Quimiparque. A Alternativa 3 difere da Alternativa 2 porque considera o porto da LBC Tanquipor, afastado cerca de 450 metros para Norte do da Atlanport.

Nesta Alternativa o terminal da LBC Tanquipor tem uma extensão de 80 metros e é completado com uma série de duques D’Alba, para amarração. A descarga de combustíveis está ligada aos reservatórios de armazenagem, em terra, por condutas submersas que passam por debaixo do tabuleiro da TTT .

“Qualquer uma destas alternativas obriga à relocalização da bacia de manobra do terminal da Tanquipor e à correcção ao traçado do canal de acesso, envolvendo um volume significativo de dragagens de instalação”. Para além desta conclusão o estudo diz ainda que “ O transporte fluvial, por barcaças, da sucata descarregada no novo terminal da Atlanport, para a Siderurgia, ficará essencialmente dependente da viabilidade de dragagem do canal da Siderurgia (em fase de estudo pela APL) e da reabilitação do cais aí existente (técnica e economicamente viável), assim como da garantia de que a ponte do MST, que liga o Seixal ao Barreiro, possuirá um tirante de ar suficiente para permitir a passagem de barcaças rebocadas”, (9 metros para embarcações com mastreação rebatível e 16 metros para mastro fixo).

Mas a proposta APL para o desenvolvimento estratégico do Barreiro vai mais longe ao criar a Área Logística Multimodal do Barreiro (na imagem, envolvendo a actual LBC Tanquipor), a instalar na área de jurisdição da APL que, diz, “deve assumir-se como uma plataforma logística multimodal articulada com o Porto de Lisboa”.

Para esta valência pretende-se “uma área constituída por várias tipologias funcionais, podendo integrar as indústrias pesadas já existentes, indústrias ligeiras e espaços empresariais de serviços, entre os quais empresas logísticas de valor acrescentado e de distribuição. Esta área terá a particular vantagem de possuir um cais para a recepção de contentores, assegurando assim o transporte/escoamento fluvial de contentores, entre margens e com origem/destino nos terminais de Alcântara e Santa Apolónia”.

O estudo a que tivemos acesso, indica como actividades possíveis para a Área Logística Multimodal do Barreiro:
- recepção e transporte de contentores entre modos (destinos inicial e final)
- parqueamento de contentores vazios
- manutenção, reparação e limpeza de contentores/equipamentos
- consolidação, fraccionamento e armazenagem de cargas
- depósito alfandegário
- centros de empresas
- associações do sector dos transportes
- empresas de prestação de serviços a outras empresas
- centro de saúde, bombeiros, polícia, empresas de segurança
- bancos, restauração, comércio, ginásios
- serviços administrativos e do Estado
- centros de comunicações
- sede da Empresa de Gestão da Área Logística Multimodal do Barreiro

O próprio estudo tece ainda considerações quanto ao modelo de gestão a considerar para a Área Logística Multimodal do Barreiro, a qual deverá ser assegurada por uma sociedade gestora de capitais públicos ou mistos (públicos e privados), da qual poderão fazer parte “a APL, a CMB, Quimiparque, Tanquipor, Atlanport, entre outros”.

Quanto aos impactes ambientais o próprio estudo considera haverem factores negativos bastante significativos durante a fase de construção da Área Logística Multimodal do Barreiro, nomeadamente com a possibilidade do aparecimento de metais pesados (arsénio e mercúrio) durante a dragagem do rio. Também a movimentação de máquinas e equipamentos durante a construção, se traduz no aumento de veículos em circulação, do ruído, dos materiais poluentes e das poeiras em suspensão no ar.

Durante a fase de exploração as dragagens frequentes, quer do canal de acesso à Siderurgia, quer dos restantes canais de navegação, bacias de rotação e de manobra, implicam a remoção e mexida de metais pesados que existem no leito do rio.

Também o nível de ruído poderá ser ligeiramente superior ao actualmente registado e a qualidade do ar poderá ressentir-se devido “à emissão de poluentes atmosféricos resultantes do acréscimo de tráfego automóvel pesado”. (...) “Neste sentido a implantação de uma área logística e multimodal poderá contribuir para um agravamento da situação actual (fortemente condicionada pala actividade industrial), facto que constituirá um impacte negativo, significativo e permanente, embora geograficamente localizado à zona prevista para a sua implementação”, refere o estudo- proposta.

Estas são as propostas da APL para a zona ribeirinha sobre a qual tem jurisdição.

Basicamente, qualquer que seja a proposta, continuaremos a ter a movimentação de sucatas na nossa cidade, e com esta proposta até em maior quantidade segundo parece. Deixaremos de ter os camiões a circular no IC21 mas, em contrapartida teremos barcaças no rio, a transportar essa mesma sucata até à Siderurgia.

Ao largo, a nossa vista sobre Lisboa passará a ter no campo de visão a descarga de combustíveis e, se estas propostas forem avante, teremos também na margem sul, a parte do negócio de trânsito e carga que não interessa a Lisboa.

A APL, como se viu, prepara-se para colocar no Quimiparque as actividades de reparação e conservação de contentores, com os inconvenientes que este tipo de actividade arrasta consigo, tendo escolhido para esse efeito dois locais, junto à zona de tancagem da LBC que, ao ser fisicamente cercado pela futura área logística do Barreiro, deixará de ter espaço para se expandir.

Certamente, quando esta proposta for tornada pública, estas as actividades serão apresentadas como geradoras de emprego e, provavelmente, até nos dirão que incorporarão as mais modernas tecnologias e empregarão técnicos qualificados (para carregar contentores em barcaças!).

Actualmente, as empresas instaladas no Quimiparque, não possuem mão-de-obra qualificada (esta é pelo menos a imagem que conhecemos) mas, o que a APL propõe, não trás valor acrescentado além de contribuir para o aumento da poluição do ar e do rio.

O transporte e movimentação de sucatas é responsável pela produção de nuvens de pó de materiais ferrosos que, se em grande quantidade, podem tornar-se um problema de saúde pública, poluindo o rio e a própria cidade.

Quanto à área logística, quem não se lembra do aspecto da zona do Poço do Bispo e do parque de contentores da Matinha, em Lisboa, antes da Expo 98? Esta é a paisagem que iremos ter nos terrenos contíguos à FISIPE e CPPE.

Mas esta proposta, a ser aceite, poderá ter também efeitos negativos para todo um conjunto de projectos com os quais nos vêm acenando há bastante tempo. Refiro-me à célebre Cidade do Cinema, à criação de uma zona ribeirinha dedicada ao lazer e a actividades lúdicas e à instalação de empresas de serviços e de novas tecnologias.

Que empresário quererá instalar a sua empresa com vista para um terminal de contentores ou para um cais de descarga de sucata, transportada em barcaças?

Parece-me que o autismo e incapacidade dos nossos autarcas, demasiado embevecidos pelo sonho megalómano de construir uma nova cidade nos terrenos do Quimiparque, pelos milhões de euros em taxas de construção e IMI que isso significa, nos está a conduzir para uma realidade bem pior que aquela que temos vivido nas últimas décadas da cidade.

Estamos a “navegar à vista”, sem uma estratégia definida e outro objectivo que não seja a criação de condições para favorecer a especulação imobiliária. Enquanto isto vamos assistindo a um estranho relacionamento de “amizade” entre a Quimiparque e a Câmara Municipal do Barreiro, com a primeira oferecendo terrenos e abrindo a bolsa para satisfazer os apetites da segunda.

Foi assim com a cedência de terrenos para se construírem os acessos ao Forum Barreiro, como já antes tinha sido com a cedência das instalações da antiga fábrica da SOTINCO/CIN à autarquia, com o projecto da Rotunda no Largo das Obras e será assim quando se partir em dois o parque empresarial em nome do acesso ao centro da cidade (entenda-se Forum Barreiro).

Mais uma vez caberá à Quimiparque o pagamento da factura para viabilizar o investimento na especulação imobiliária daqueles que promovem uma nova cidade assente em andares que ficam por vender e empregos que não se criam, mesmo que isso signifique o sacrifício das condições oferecidas às empresas instaladas.

Há que saber aproveitar a nova centralidade no arco ribeirinho sul, que o Presidente Carlos Humberto não se cansa de repetir que vamos ser. Mas nada ainda foi feito. Continuamos sem identidade nem ideias próprias, copiamos estereótipos e apostamos, para motor do desenvolvimento da cidade, em projectos imobiliários como o da Quinta das Cordoarias, ou o Forum Barreiro, como gerador de emprego.

Agora que já abriu portas, é tempo de perguntar onde estão os 3000 empregos apregoados para o Forum Barreiro (1000 directos e 2000 indirectos - inJornal do Barreirode 31 Outubro 2008)?

Minhas senhoras, meus senhores, estão a vender-nos ilusões em forma de ponte sobre o Rio Tejo, futuros risonhos com edifícios de luxo e lojas de marca a sortearem automóveis topo de gama, do mesmo modo que há 34 anos nos prometeram uma vida melhor.

É isto que queremos? É nisto que acreditamos? Temos razões para acreditar nestes profetas? É fundamental pensarmos pela nossa cabeça e expressarmos as nossas ideias e opiniões. Não podemos deixar-nos levar por políticos interessados em defender interesses que não são os nossos (eventualmente serão os deles).

Do Vosso Captain Jack


Nota para a nossa leitora do Porto:

Os edifícios do Largo das Obras foram adquiridos há cerca de 7 anos por uma empresa com sede em Gibraltar, integrados num lote de imóveis que foram vendidos em licitação pública.
Na altura um jornal nacional chegou a noticiar ter sido um negócio com contornos pouco claros, envolvendo conhecidas personalidades da cidade, alguns deles com responsabilidades políticas.
Nada ficou esclarecido.
Presentemente, apesar de ocupados por 3 ou 4 famílias, estão ao abandono.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

AVENIDAS NOVAS OU RUAS ESTREITAS?


Abrem-se Ruas e rasgam-se Avenidas!
Não se trata de uma alusão ao significado físico da frase mas de uma metáfora que me ocorre para classificar o que se vem fazendo, desde há muito nesta cidade do Barreiro.

Quando todo o executivo camarário se empenha em viabilizar um investimento privado como o Forum Barreiro, mesmo que para isso tenha que transformar o centro da cidade num imenso estaleiro de obras, onde estas decorrem, muitas vezes com/sem o mínimo de segurança; quando ouvimos Vereadores e Presidente a falar do Forum Barreiro como fonte geradora de emprego e solução para colmatar a falta deste, na cidade; quando é a própria autarquia que apresenta um Centro Comercial como solução para a estagnação do comércio local e não como um concorrente daquele que ainda consegue sobreviver; é abrir uma rua onde se pode rasgar uma Avenida.

Nestes longos meses de obra abundaram os trabalhadores estrangeiros, as empresas espanholas e os migrantes diários que, arrebanhados nos interfaces de transportes de Lisboa, eram descarregados no Barreiro para fazer a “Obra”. Quantos barreirenses lá trabalharam? Quantas empresas se instalaram no Barreiro?

Quem certamente não se pode queixar são os cafés das redondezas que nestes últimos cinco meses venderam mais bicas, cervejas e sandes de presunto que no resto do ano. As pastelarias não deram conta às tortas de chocolate e às bolas de manteiga. Os restaurantes de “prato-de-dia” conheceram, no último mês, o incremento dos bitoques e das febras. O McDonald’s vendeu tantos hamburgueres que subiu no ranking dos franchisados.

Isto meus senhores, minhas senhoras, é tapar o sol com a peneira, é ignorar as oportunidades e as potencialidades que a cidade oferece.

Temos uma avenida marginal única, com condições imensas e desaproveitadas. Os quarteirões do Barreiro antigo têm particularidades que os colocam numa situação privilegiada, do ponto de vista comercial e o parque empresarial Quimiparque tem estrutura para poder/dever ser aproveitado para desenvolver, a cidade e o Concelho, e não para um mega-negócio de especulação imobiliária.

Do ponto de vista físico, transformou-se a antiga Avenida da Bélgica, mais tarde Alfredo da Silva, numa Rua que será brevemente conhecida como a “rua que vai para o Forum” e que, certamente, será baptizada de Rua Mercado 1º de Maio, neste lento processo de eliminar os nomes, as personagens e os acontecimentos de referência da velha cidade que, em tempos idos, pulsou e teve vida própria.

O Barreiro, como o conhecíamos há trinta e tal anos está hoje mais bonito com a nova rua (por enquanto) Alfredo da Silva e não deixa de ser irónico que é precisamente o Partido Comunista, que empunhou a bandeira da luta contra o capitalismo e os capitalistas deste país que abre as portas e entra com passadeira vermelha no novo templo do consumo urbano.

Somos um país baralhado, onde os partidos de direita defendem o aumento do ordenado mínimo, das pensões dos reformados e dos antigos combatentes enquanto os de esquerda convidam o capital para investir em negócios de especulação imobiliária ou de incentivo ao consumo.

Os últimos meses foram de uma azáfama diabólica com ruas encerradas ao trânsito, outras estreitas que, de sentido único, passam a ter dois sentidos e cada um que se “desenrasque”, travessas sem trânsito que passam a conhecer engarrafamentos em hora de ponta, passeios onde circulam máquinas e pessoas, num convívio de mãos dadas com as (inexistentes) condições de segurança.

Hoje, contudo, tudo termina para dar lugar a um eixo que liga o futuro novo mercado 1º de Maio ao novíssimo Forum Barreiro, na bonita Rua Stara Zagora, limitada por duas belas rotundas e largos passeios aos quais conduz uma linda de estarrecer (estreitada) ex-avenida-actual-rua Alfredo da Silva, ao estilo das capitais europeias com árvores escolhidas a dedo (houve o cuidado de escolhê-las com vários tons de folhagem, para compor melhor o ramalhete inaugural).

A propósito Sr. Presidente, as novas árvores da Avenida-agora-Rua Alfredo da Silva, não são Plátanos, aquelas árvores que tantos problemas têm criado na Avenida Alexandre Herculano?

È sem dúvida uma obra que embeleza a triste ex-avenida Alfredo da Silva e têm razão em estarem contentes e impantes os membros do executivo comunista que, depois de tanto mal terem dito do negócio feito pelos socialistas com a sociedade Espaço 3030, responsável pelo Loteamento da Quinta das Cordoarias, nestes últimos dias não se cansam de aparecer no movimentado terreiro das obras, espalhando cumprimentos e recolhendo palmadas nas costas.

O “parabéns, está muito bonito!” (e de facto está) foi repetido até à exaustão, mesmo por aqueles que há trinta anos fecharam os portões da “fábrica” e escorraçaram quem os empregava. Os manifestantes de punho erguido que encheram as ruas do Barreiro, gritando palavras de ordem contra o Capital, exigindo que os ricos pagassem a crise, são os mesmos que agora, fazem fila para serem vistos a passear no Forum Barreiro.

Serão os ricos que vão pagar esta “crise”? Foi o povo quem mais ordenou esta política de favorecimento ao especulador imobiliário que conseguiu fazer aprovar um loteamento com mais de duzentos fogos para o centro do Barreiro?

E quando os previstos 750 veículos em hora de pico, aos fins da tarde de Sábado, rumarem ao Forum Barreiro pelas ruas da cidade e as entupirem, será que se irão manter os sorrisos na cara dos nossos Vereadores e Presidente? Importar-se-ão com isso?

Quem certamente não tem muitos motivos para sorrir são os moradores da Rua Stara Zagora, que apesar de terem passeios largos e muitas árvores para levar os cãesinhos a passear perderam os seus estacionamentos e conhecem agora a “oportunidade única” de arrendar um lugar de parqueamento, na garagem do Forum a 80€ por mês.

Também não devem achar “muita piada” os comerciantes, sacrificados neste refabofe que foram os últimos meses de obras, baixaram a facturação e vêem agora todos s caminhos apontarem ao Fórum Barreiro, levando-lhes os poucos clientes que ainda conseguem ter poder de compra.

Mas acerca deste grande “sopro de progresso e de investimento salvador da cidade”, é impressionante o que se obtém se começarmos a fazer contas e juntarmos aos 750 lugares da garagem do Forum, os 250 previstos para o Mercado 1º de Maio, que estão concessionados à Multi Mall Management (MMM) por 30 anos.

Vamos considerar como exercício que a MMM consegue uma média diária de 10€/lugar, entre taxas cobradas aos visitantes, comerciantes e aqueles que arrendam os lugares em permanência, mensalmente.

Com este valor, no final de cada mês a MMM recolhe 300.000€ que se convertem, no final do ano em 3.6M€

Pois é, também eu fui confirmar estes valores para perceber como foi “penalizada” a MMM ao terem-lhe sido exigidas tamanhas contrapartidas para poder construir o seu Forum Barreiro.

Fez estas contas Sr. Presidente? Já viu que mesmo que o valor médio diário por lugar baixe para 5€, no final do primeiro ano a MMM encaixa 1.8M€ e consegue pagar as obras realizadas com os acessos ao Forum Barreiro (renovação da Avenida Alfredo da Silva e Rua Stara Zagora) e ainda começa a amortizar o que gastou/investiu no Mercado 1º de Maio?

Juntem-se a isto os previstos 30M€ que a MMM prevê facturar anualmente neste centro comercial e, quase sem fôlego, apetece-nos perguntar: “Quem fez bom negócio Sr. Presidente?” a Câmara Municipal quando, pela sua voz, soubemos, numa Assembleia Municipal, que lhes disse: “queremos que vocês construam o novo Mercado com a chave na mão, façam a Praça adjacente, façam o estacionamento em cave, construam a Avenida Alfredo da Silva e vamos ver se conseguimos outras coisas”, ou o MMM que, apesar de todo o dinheiro investido deixou para o Quimiparque a construção dos acessos mais importantes?

Mais uma vez, os “gentleman agreements” ditaram que fosse uma empresa de capitais públicos a pagar a parte pesada da factura, ficando a seu cargo a execução de uma alameda que vai transformar profundamente o parque empresarial onde se podia criar emprego, esse sim duradoiro e susceptível de criar sustentabilidade na cidade.

E que dizer do investimento no ex-campo do Barreirense que antes de arrancar já tem todas as infra-estruturas viárias de que necessita, concluídas? Quem é o promotor deste investimento, não é o construtor do “regime”?

Não tinha sido mais lógico conjugar as contrapartidas destes investimentos para rasgar uma rua (ou abrir uma avenida) no limite Sul do parque empresarial Quimiparque, com ligação ao IC21, aproveitando para resolver o problema do Bairro das Palmeiras?


Meus senhores, minhas senhoras, no entanto nem tudo é mau. O Captain Jack sabe que decorrem já negociações para construir um Corte Inglês na Rua Miguel Pais (só assim veremos esta rua arranjada), um AKI no Barreiro velho (para recuperar esta zona da cidade), um Dolce Vita na Cidade Sol (para resolver o problema da Quinta da Mina) e, embora mais atrasadas e de difícil entendimento estão as conversações com a Sonae Sierra para a construção de um mega Mall, no Bairro das Palmeiras.
O progresso vem aí, com raparigas muito produzidas que nos esperam atrás do balcão de uma qualquer loja de shopping, num Centro Comercial perto de si, palavra de

Captain Jack

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

ELA CÁ ESTÁ! (e nós como ficamos?)

Longe vai já a discussão sobre a melhor opção Chelas-Barreiro versus Beato-Montijo-Barreiro, para atravessar o Tejo pela Terceira vez, na zona de Lisboa. Está aceite a necessidade e mesmo o interesse nacional neste tipo de infraestrutura, para não perdermos o comboio da Europa no que diz respeito à Alta Velocidade.

Esta nova travessia “acomoda duas vias ferroviárias de alta velocidade, duas vias ferroviárias convencionais e uma nova ligação rodoviária”.

Deseja-se que a Alta Velocidade assuma “um papel no desenvolvimento económico e social de Portugal, consolidando a fachada Atlântica, dando-lhe capacidade competitiva e integrando-a no espaço ibérico europeu”.

Cheira a discurso político, é discurso político mas é a estratégia escolhida e designada como nacional. Veremos, no futuro, se a factura que vamos pagar corresponde à qualidade do produto que vamos comprar ou se, pelo contrário, é mais um dos grandes desígnios nacionais como os que temos tido, periodicamente, ao longo destes últimos 34 anos.

É exactamente este receio que nos revelam as vozes da contestação que, um pouco de todos os lados, se vão juntando em uníssono pedindo que seja repensada esta apetência pelos mega-projectos dos quais a TTT e o aeroporto são o exemplo máximo.

À margem deste alarido, o Estudo de Impacte Ambiental (EIA) sobre a Terceira Travessia do Tejo, foi tornado público a 13 de Outubro. Este documento que nos deve interessar, como barreirenses, analisa e define a opção, considerada como a menos lesiva para a cidade, no que aos traçados ferroviário e rodoviário se perspectiva para os próximos anos.

Das duas opções consideradas, A e B, o Estudo considera a última, designada de opção Poente, como aquela que será a menos lesiva para a cidade, (outra maneira de olhar para o copo meio-cheio ...).

A solução apresentada para a margem Sul contempla a condução do comboio de Alta Velocidade através de um túnel com extensão de 3.5Km que mergulha sensívelmente junto ao hipermercado Feira Nova para voltar de novo à superfície no Vale do Trabuco.

Este túnel é acompanhado de perto por um outro túnel, desta feita rodoviário, com extensão prevista de 900metros, início junto ao Feira Nova e saída entre o Hospital e o campo dos Galitos.

O EIA analisa diversas vertentes do impacte ambiental, nomeadamente na Geologia e na Geomorfologia dos terrenos que interessam ao desenvolvimento da obra, nas águas superficiais e subterrâneas, no actual uso do solo, nos aspectos ecológicos, na paisagem, na qualidade do ar, no ruído e na vibração induzida nas construções existentes, o aspecto sócio-económico, no ordenamento do território, no património construído e na produção de resíduos.

“(Na margem sul) o traçado desenvolve-se em duas soluções alternativas, designadas por Solução A (Nascente) e Solução B (Poente). (...) O traçado da Solução A insere-se no corredor da Av. das Nacionalizações, ao passo que a Solução B contorna por Poente o núcleo urbano do Lavradio. As duas soluções apresentam um distanciamento máximo entre si de 300m.

(...) Na margem Sul o projecto contempla uma nova estação na zona do Lavradio, para o serviço (ferroviário) convencional , que desempenhará um papel central na mobilidade regional, já que servirá toda a população do Barreiro e Lavradio.”

In Terceira Travessia do Tejo – Estudo de Impacte Ambiental – Resumo não Técnico

Para a linha de comboio convencional está ainda pensada uma ligação à “zona industrial e portuária do Barreiro” entre a estação a construir no Lavradio e a rede existente no Quimiparque. Sabendo das dificuldades e da forma como a ADP e a FISIPE têm sobrevivido às convulsões da subida do preço do petróleo e da concorrência no mercado dos têxteis, apetece perguntar porquê esta ligação? Isso veremos na próxima postagem.

Olhando para as imagens facilmente se compreende a vantagem da opção B, no que à preservação do património construído diz respeito. Já relativamente à integração na paisagem cada uma das opções é suficientemente penalizadora para a cidade para se puder dizer que uma seja melhor que outra ou sequer menos má.

O próprio relatório assume “Também é certo que o impacte visual da ponte será sempre alvo de opiniões contraditórias envolvidas por um grau de subjectividade elevado, em boa medida resultado das experiências, formação e estética de cada observador pese embora a implantação de uma infra-estrutura com esta envergadura dê sempre origem a transformações consideráveis na paisagem.”

Para a componente Alta Velocidade (AV) “os principais impactes na paisagem ocorrem (...) na zona de entrada dos túneis da margem Sul.” A situação não é diferente para a linha de comboio convencional, seja qual for a opção considerada, “na zona do viaduto do Barreiro”.

Do ponto de vista da criação de impactes negativos o EIA conclui que “Quanto à componente rodoviária os principais impactes paisagísticos ocorrem na margem Sul ocorrem na margem Sul, com maior intensidade na alternativa A, e correspondem: às zonas de entrada do túnel do Barreiro, ao viaduto principal do Barreiro, ao viaduto da futura Estação do Lavradio, ao Viaduto Rodoviário 1 e à Ponte sobre o Rio Coina, integrada na Ligação Seixal/Barreiro.”

Sendo o que atrás se refere, válido para a Opção A e mesmo Estudo também admite que “no que diz respeito à comparação de alternativas a Solução B apresenta-se como ligeiramente mais favorável.”

Curioso, no entanto são as conclusões a que o EIA chega no tocante à qualidade do ar na margem Sul onde, diz sem se referir ao local de amarração da TTT mas antes generalizando para todo o concelho que “No concelho do Barreiro verificam-se ainda alguns episódios de qualidade do ar deficiente, em associação a concentrações elevadas de dióxido de enxofre. Neste caso, estas emissões resultam sobretudo das emissões das unidades industriais ali presentes”, para depois concluir que sendo assim os impactes mais importantes serão com as partículas que haverão em suspensão durante os trabalhos de construção.

Primeiro alarga-se a comparação ao concelho do Barreiro para depois apontar “unidades industriais” que na prática já estão desactivadas ou são em número muito reduzido. Em jeito de conclusão parece quererem dizer-nos que já que o ambiente é mau pode ficar pior. Conclui-se mesmo que “a nível local prevê-se a concentração de poluentes no ar, sobretudo dióxido de azoto. Em algumas zonas habitacionais são atingidos níveis elevados” como conclui ser o caso da Av. das Nacionalizações e zona do IC21, junto ao Hospital, Escolas Augusto Cabrita e Álvaro Velho (a Padre Abílio Mendes deverá desaparecer), Estádio Alfredo da Silva e Quinta dos Fidalguinhos, acrescento eu.

Do ponto de vista económico-social o EIA aponta para a criação de emprego durante a fase de construção, não nos podendo garantir, contudo, que estes empregos sejam preenchidos por gente local. A previsão é para um aumento do consumo de bens e serviços locais.

Após a fase de construção o EIA avança a hipótese de as zonas próximas dos locais servidos pela infraestrutura possam constituir-se como receptoras de população jovem em busca de local para se instalar e viver ou mesmo até empresas que permitam desenvolver a economia local, mas não deixa de lançar a hipótese de que isso só ocorrerá se não puderem instalar-se em Lisboa para onde, “se passará a ter acessos mais facilitados aos principais centros de educação, cultura, saúde e outros.”

Fico confuso quando se apresenta a TTT como uma espécie de aspirina mágica para, como refere o EIA “incentivar a reconversão das antigas áreas industriais” – as mesmas que algumas páginas antes produziam elevadas concentrações de dióxido de enxofre – “e a reconversão e reabilitação urbana das áreas degradadas, de génese ilegal ou sem qualidade, e a instalação de novas actividades económicas”.

Novas actividades económicas que, fica-se a saber, deverão procurar outras áreas de instalação fora da cidade do Barreiro, já que se anuncia que todo este desígnio nacional irá dar origem à “valorização e regeneração estratégica do território da Quimiparque (...) que visa a ampliação da cidade do Barreiro na direcção da Quimiparque (para Este e para Norte), tendencialmente”.

Ou seja a regeneração das áreas degradadas e a reconversão daquelas de génese ilegal ou sem qualidade será feita à custa de construção massiva para criar mais um dormitório em volta de Lisboa, mais uma periferia que permita fazer nascer a Loures do Sul.

Esta situação é, aliás, deixada em aberto ao referir-se que “Na fase de exploração o projecto poderá causar implicações ao nível da pressão urbana para densificação de núcleos urbano/industriais existentes e/ou surgimento de novos em áreas não previstas nos instrumentos de gestão do território”.



Meus senhores, senhoras minhas a Ponte já tem os pés nas duas margens, o que dela advier é sempre bom, depende apenas da capacidade de se saber aproveitar em proveito de todos o que ela nos poderá trazer. Há essa capacidade? Há essa intenção?

As gerações futuras irão saber.

Captain Jack

domingo, 21 de setembro de 2008

VISTAS LARGAS EM RUAS ESTREITAS

Ao longo dos últimos dois anos temos assistido a um desfile de ideias megalómanas que, a reboque da mais despudorada demagogia, vão enchendo as páginas dos jornais barreirenses e dando a volta à cabeça daqueles que tendem a confundir a realidade com a miragem.

Foi assim com a Terceira Travessia do Tejo (TTT), que até hoje nenhum dos responsáveis autárquicos teve a coragem de divulgar até que ponto irá retalhar o Barreiro, para que possamos continuar a ver passar os comboios que vão para o Sul, sem pararem em nenhuma das estações que ainda ficaram de pé.

Foi assim com a megalómana avenida que Augusto Mateus propôs construir no lugar da linha-férrea que atravessa a cidade onde ainda hoje passa e no futuro continuará a passar a linha do Alentejo. A propósito, aliás, veja-se o terminal ferroviário que a REFER está a construir junto da estação do Barreiro-Mar, com três linhas e duas plataformas de passageiros, no âmbito da empreitada de electrificação da linha do Alentejo.

(...) O objectivo é “melhorar a interface do modo de transporte ferroviário com os modos de transporte fluvial e rodoviário, já existente no Barreiro”, explica a REFER.

(...) Ainda no quadro da electrificação da linha do Sado está previsto que a muito curto prazo avance a construção de uma passagem superior pedonal, junto ao Bairro das Palmeiras, para substituição da existente, que não tem altura suficiente para permitir a electrificação do traçado.
In Jornal “Sem Mais” edição de 13 de Setembro de 2008

A avenida que Augusto Mateus via como tendo quatro faixas, separador central, largos passeios e talvez até uma ciclovia, um percurso verdejante de árvores por onde os barreirenses circulariam em direcção ao novo centro (Forum Barreiro e empreendimento imobiliário do Quimiparque, entenda-se) qual Via Diagonal de Barcelona, ficará, pelos vistos, adiada, para deixar passar os comboios para o Pinhal Novo.

A grande estação interface ferro-rodoviária a construir algures sobre a Escola Álvaro Velho, outra das ideias propostas por Augusto Mateus no seu célebre Plano de Reconversão do Quimiparque (que eu nunca percebi porque tinha que passar para o exterior deste território) e que ficaria desligada do transporte fluvial, tão importante para os milhares de pessoas que o utilizam diariamente, parece afinal ter mudado de sítio para o local agora ocupado pela garagem dos TCB, não para poupar edifícios de habitação mas porque assim o decidiram a REFER/RAVE/CP.

A célebre Cidade do Cinema, que os nossos autarcas “exigiram” tornar-se em projecto PIN+, com sucessivas e inconclusivas reuniões, continua a aguardar que o promotor entregue o Dossier de Projecto, situação que tem vindo sucessivamente a ser adiada.
Na última versão falava-se em Agosto. Foi entregue?

De tudo isto uma coisa parece ser certa. Qualquer perspectiva para futuro do Barreiro passa sempre pelo Quimiparque. Foi lá que se construiu a nova esquadra de polícia, é lá que se está a construir o novo quartel dos Bombeiros Sul e Sueste, é por lá que irá passar a ligação viária ao Forum Barreiro; também é para lá que se mudaram já alguns serviços da Câmara Municipal do Barreiro e outros se lhe seguirão, (ao que parece quando a megalomania couber dentro do orçamento da Quimiparque, SA) e teve também que ser esta empresa, cujo único accionista é o Estado, a doar o terreno para a construção da ETAR e a suportar os custos de movimentação de terras, há um ano atrás.

Não será este interesse e fé nos poderes mágicos do Quimiparque devido apenas aos cerca de 300 hectares de terreno de que esta empresa é proprietária?

“Nós queremos ser uma centralidade na Área Metropolitana de Lisboa, uma centralidade com qualidade, e o elemento mais importante é a Quimiparque. Tudo o resto os outros concelhos têm, o que nos diferencia dos outros concelhos será o que conseguirmos fazer na Quimiparque. É o elemento determinante para o desenvolvimento económico do Barreiro.”
Carlos Humberto ao Jornal “Notícias do Barreiro”, edição 3 de Setembro de 2008


Quererá o Senhor Presidente dizer com isto que “nós” temos 300 hectares, bem no centro da cidade para “atafulhar” de edifícios, como se está a fazer no local do antigo Estádio do Barreirense e na Quinta das Cordoarias?

Estará o Senhor Presidente a pensar nos 40% de fogos devolutos ou por vender, existentes no concelho do Barreiro, ou nas taxas que a autarquia pode arrecadar, com tamanho “desenvolvimento”?

(...) “A ETAR pode levar a que daqui a alguns anos se possa tomar banho no Barreiro, admito que talvez daqui a dois anos.”
Carlos Humberto ao Jornal “Notícias do Barreiro”, edição 3 de Setembro de 2008

Quem sabe, Senhor Presidente, se a ETAR não lhe permitirá tomar banho no Clube Naval daqui a alguns anos, mas para isso terá que começar a ser construída, começar a trabalhar e haverá que dar tempo a que o rio recupere. Isso não se consegue por decreto como também não se consegue construir o hotel que, o senhor, também acredita vir a existir no Barreiro daqui a... dois anos.

E se, à semelhança dos terrenos contaminados do Quimiparque, o rio também o estiver? Já pensou o que pode acontecer quando milhares de metros cúbicos de água começarem a ser atirados ao rio e os fundos lamacentos, eventualmente contaminados com metais pesados, começarem a ser revolvidos pela intensidade de tamanho caudal?

O seu executivo dispara em todas as direcções, Senhor Presidente, parecem-me aqueles caçadores que no primeiro dia de caça atiram a tudo o que mexe... e falham.

[As obras da Avenida Alfredo da Silva] “(...) Incluem, igualmente, o alargamento dos passeios, a plantação de quase uma centena de árvores próprias para zona urbana e a colocação de mobiliário urbano.”
In comunicado da CMB de 25 de Agosto de 2008

(...) Na avenida os passeios vão ser alargados em 2.5 metros cada, vão ser colocadas 100 árvores em cada um dos passeios, todas com um ponto de luz, e serão criadas três zonas de iluminação mais forte, numa avenida onde a velocidade máxima será 30 quilómetros, com o estacionamento proibido em toda a sua extensão.”

(...) “Toda a intervenção [na Av. Alfredo da Silva] tem como objectivo tornar o centro mais atractivo para peões, comércio e lazer. Queremos ser uma centralidade na Área Metropolitana de Lisboa e para isso temos que ter um centro forte e dinâmico (...)”

“Seis metros de estrada dão para passar dois autocarros ao mesmo tempo.”
Carlos Humberto em conferência de imprensa de 2 de Setembro de 2008

“Existem várias ruas do Barreiro com 6 metros onde se cruzam autocarros, mas nós acompanhamos a obra e falamos com as pessoas e decidimos alargar a estrada em mais meio metro, pois na opinião das pessoas podia haver problemas.”
In Jornal de “Notícias do Barreiro”, edição de 10 de Setembro de 2008

[acerca do alargamento de meio metro da nova avenida Alfredo da Silva] “Segundo Carlos Humberto, na rua as opiniões são ouvidas e tidas em conta, pelo que a decisão do executivo passou por conciliar a análise técnica com o sentimento da população”
In “Jornal do Barreiro”, edição de 5 de Setembro de 2008

“Características do novo centro serão ser um centro construído para o peão, onde a circulação automóvel será reduzida a 30Km/h – embora continue nos dois sentidos – e onde o estacionamento será limitado, apenas com 15 pontos de cargas e descargas, equivalente a cerca de 25 carros.”
In “Jornal do Barreiro”, edição de 5 de Setembro de 2008


(...) “para que o Barreiro cresça e seja um Concelho para trabalhar e viver”
In Primeira Opção Participada 2008 com os trabalhadores do DPGU, 2 de Setembro de 2008

“(...) prevendo-se que os trabalhos de pavimentação terminem no início de Outubro. Já no início de Novembro deverá encontrar-se concluída a intervenção nos passeios da Avenida Alfredo da Silva.”
In Comunicado da Câmara Municipal do Barreiro relativo às obras da Av. Alfredo da Silva de 9 de Setembro de 2008

(...)”concluir até meados de Outubro o que é via rodoviária. (empreitada concluída) na primeira ou segunda semanas de Novembro. [o atravessamento do Quimiparque] não estará concluído antes do fim do ano”

(As obras da Av. Alfredo da Silva) “têm decorrido muitíssimo bem e de forma profissional, apenas com um pequeníssimo atraso de dias”
Carlos Humberto em conferência de imprensa de 2 de Setembro de 2008

“A Inspecção Geral do Trabalho deslocou-se à obra a pedido do delegado de saúde do Barreiro (...). Uma vez no local tudo foi inspeccionado, motivo que levou à suspensão parcial das obras na Avenida devido às condições de segurança no trabalho.
Segundo a vereadora Sofia Martins, a razão das obras em profundidade terem sido suspensas prendeu-se com a ‘situação das valas dos colectores principais’
In “Jornal do Barreiro”, edição de 5 de Setembro de 2008

“Estavam a fazer as obras sem segurança, já tinha dado ordem para se terminar a actividade, o encarregado mandava retirar os homens do local, mas quando virava costas colocava-os lá a trabalhar na mesma.”
Os problemas segundo Mário Durval estavam relacionados com os trabalhos que se realizavam em profundidade, em valas com cerca de 4 metros e com o uso de máquinas pesadas a circularem ao mesmo tempo e no mesmo local, o que é proibido.”
In “Jornal do Barreiro”, edição de 5 de Setembro de 2008

Ah, Senhor Presidente as obras... as obras, Senhor Presidente, sinónimo de evolução e progresso, numa cidade onde os velhos são esquecidos em bairros decrépitos cheios de prédios que desafiam a gravidade.

Mas que importa isso agora, desde que o nosso Forum Barreiro se torne realidade em Novembro? Pouco importa que o acesso ao Forum Barreiro seja feito por um túnel escavado sob uma rua pública. Também pouco importa a forma como se faz o acesso e se sai dos pisos de parqueamento e tão pouco interessam os direitos dos munícipes da Rua Stara Zagora que viram o seu estacionamento destruído, sem alternativa.

“O Centro do Barreiro dentro de algum tempo será motivo de satisfação. A sua requalificação, pensamos que trará mais qualidade de vida às populações e permitirá revitalizar o comércio tradicional e consolidar aquele local da cidade como uma grande praça de socialização das gentes da nossa terra.”
In Editorial de “Informação da Câmara Municipal do Barreiro”, de Agosto de 2008

E como explicar, Senhor Presidente, que a mesma Rua Stara Zagora permaneça, praticamente desde o início das obras sem iluminação nocturna, esquecendo-se a Câmara Municipal que garantir a segurança dos cidadãos também é um dos deveres da autarquia que o senhor dirige?

E que nos pode dizer da densidade de construção da Quinta das Cordoarias? Já reparou como o construtor “oficial do regime” conseguiu esconder à sombra do Forum Barreiro um enorme empreendimento imobiliário habitacional (Quinta das Cordoarias, antigo Estadio do Barreirense e a zona habitacional do próprio Forum)?

E porque razão é a empresa Quimiparque a ceder os terrenos necessários à construção dos acessos a todo este complexo imobiliário? Como se não chegasse “partir” em dois o parque empresarial, onde trabalham cerca de 4000 pessoas e condicionar o funcionamento normal das 300 empresas que ali laboram, ainda se corta uma fatia a Poente e obriga-se a demolir alguns edifícios para permitir passar uma rua (de 6 metros?), mantendo intocável o empreendimento habitacional do Estádio do Barreirense.

Deixe-me Senhor Presidente acabar esta postagem com duas perguntas:
Porque razão se estão a colocar colectores para as águas pluviais sem, no entanto, se construírem sumidouros ou sarjetas? (Em toda a nova Avenida Alfredo da Silva existem 5 ou 6 sumidouros).

Com uma “AVENIDA” de 6,5 metros de largura, lugares de paragem para cargas e descargas com menos de 2 metros de largura, que obrigarão a que os veículos de mercadorias estacionem com parte do rodado dentro da faixa de rodagem, como irão circular as ambulâncias, carros de bombeiros e da polícia em serviço de emergência? Quem lhes dará passagem e como?

Minhas Senhoras, meus Senhores, de uma coisa não tenho duvidas: não sei se teremos um Barreiro melhor mas teremos, certamente, um Barreiro diferente!

Sempre Vosso

Captain Jack

domingo, 24 de agosto de 2008

LAPIDAÇÃO ou DELAPIDAÇÃO?

LapidarMatar à pedrada, apedrejar, talhar e polir as faces das pedras preciosas, de vidros, etc. aperfeiçoar, educar, que está gravado em pedra, fundamental, artístico, perfeito.

Delapidar – Esbanjar, Malbaratar, Dissipar, Arruinar
In “Dicionário da Língua Portuguesa”
De J.Almeida Costa e A.Sampaio e Melo
Porto Editora, Lda
De regresso ao Barreiro, depois de umas retemperantes férias algures na costa vicentina, para onde também se preparam as virtudes deste progresso que, de repente invadiu o país, num frenesim de projectos PIN apadrinhados por governantes e autarcas, fui logo avisado que o centro da cidade estava em “requalificação”.

Os avisos repetem-se em diversas placas espalhadas pela cidade, não permitindo contudo, ao automobilista prever o que lhe está reservado no centro.

São voltas e reviravoltas ao volante, em labirínticos percursos cheios de aventura, qual Rally-Papper sem perguntas. Ruas que antes eram de sentido único passaram a ter dois sentidos, sem qualquer sinalização que disso elucide o automobilista, com a separação feita por pimenteiros de PVC ao estilo do improviso bacoco e perigoso que desrespeita quem aqui circula (jardim dos Franceses), arruamentos que inverteram o sentido de circulação sem qualquer aviso prévio, ruas onde circulam ao mesmo tempo automóveis e manobram máquinas e equipamentos de construção civil, retroescavadoras, camiões que transportam materiais de obra, gruas e dumpers, peões, ciclistas e basbaques reformados, que confundem betão com desenvolvimento.

O que me admira não é a falta de organização que reina neste frenesim de obras pré-eleitorais de uma autarquia que ficou de “tanga” pela má gestão do anterior executivo, uma autarquia que demora em média seis meses para pagar aos seus fornecedores e que inventa mil e uma maneiras para sacar ao munícipe e empresas do concelho todos os trocos possíveis (veja-se o caso da recente tarifa de disponibilidade que substitui o aluguer do contador da água, a partir do próximo 1 de Setembro de 2008).

Espanta-me, isso sim, a forma como os perigos “deixam de ser perigosos” quando convém montar vedações de qualquer maneira, sem o mínimo cuidado em sinalizar os obstáculos (DL 163/2006 de 8 de Agosto sobre acessibilidade de pessoas com mobilidade condicionada), quando falta iluminação eficaz nos arruamentos que viram a sua capacidade de circulação condicionada, quando a separação entre sentidos de trânsito se faz com recurso a pimenteiros de plástico já pouco visíveis durante o dia e totalmente invisíveis à noite.

Ninguém contesta a necessidade de se fazerem as obras, no que à rede separativa de esgotos diz respeito. O resto é muito duvidoso, principalmente quando, os mesmos que hoje promovem estas intervenções, contestaram a execução da calçada “PS” da Av. Alfredo da Silva, há quatro anos atrás.

Na altura disse-se, e eu sou dessa opinião, que era um desperdício de dinheiro porque haviam outras intervenções prioritárias. Então como explicar agora este esbanjamento? Não parece uma birrinha de miúdos mimados?

Os pedopsicólogos dizem que as birras da criança são sinónimo de uma personalidade forte, mas estes “meninos” que têm gerido a nossa cidade, qualquer que seja a cor do respectivo “bibe”, não têm pais ricos... embora gastem como se tivessem ido ao banco.

E como explicar que o Regulamento Municipal de Obras obrigue os construtores de obras particulares (pelo menos alguns) a vedar os seus estaleiros com chapas opacas (para proteger as zonas envolventes alheias às construções a executar) e se permita às empresas responsáveis por estas obras de “requalificação” que decorrem no centro do Barreiro, o desrespeito por esta norma?

As vedações colocadas na Av. Alfredo da Silva não protegem as pessoas que circulam nos passeios que ladeiam esta artéria. As suas bases constituem um perigo para as pessoas com mobilidade condicionada, principalmente os invisuais.

As poeiras e os detritos resultantes dos trabalhos de remoção do pavimento são projectados para lá destas barreiras podendo atingir pessoas e bens, para não falar nos inconvenientes que esta situação trás aos comerciantes da zona. Quem se responsabiliza por isso? Porque não se exigiu o cumprimento do Regulamento Municipal de Obras?
Uma simples lona ou pano bastaria para proteger os transeuntes das poeiras e projecção de detritos, como se vê na figura ao lado, numa obra municipalde outro concelho.

A obra não dispõe de qualquer placa identificativa que informe sobre qual a entidade/empresa que a executa, onde é o estaleiro da mesma, nem quem é o seu responsável técnico (DL 555/99).

Onde está a sinalização, obrigatória por lei, nas obras de construção civil? Quem é o coordenador de segurança da obra que não vê que os trabalhadores andam sem Equipamentos de Protecção Individual? E a fiscalização do IDICT anda assim tão atarefada que ainda não deu por esta situação?

E a PSP, como entidade responsável pela segurança rodoviária na cidade, ainda não detectou que, bem perto da sua esquadra da Praça de Santa Cruz, a separação de sentidos de circulação rodoviária é feita só com pimenteiros? É seguro? E já analisaram bem a dificuldade da manobra que os condutores, que se deslocam no sentido “Avenida da Praia”/Praça de Santa Cruz - Rua Stara Zagora, são obrigados a efectuar ao chegarem ao Jardim dos Franceses?

E como deve ser bom viver na Rua Stara Zagora, nesta altura!

Esta é uma artéria onde manobram as máquinas da obra do Forum Barreiro e circulam veículos, por uma única faixa, em dois sentidos. O truque, minhas senhoras, meus senhores, é gostar de sentir a adrenalina e avançar sempre. O mais fraco acaba sempre por recuar.

Mas deixemos as obras em curso porque estas só vão durar três meses (Agosto, Setembro e Outubro) estando prontas em Novembro. Por isso acredito que, antes de este blog registar 8000 visitas tudo estará concluído com excepção do mercado 1º de Maio. Não me parece muito: Rede de Esgotos (está quase feita, as tubagens até já estão enterradas...), alargamento dos passeios (“mantendo-se o desenho mas melhorado”, segundo o Sr. Vice-Presidente. Apetece perguntar: será com as cores do arco-iris?), plantação de cerca de 100 árvores (espero que não seja “sem” árvores...) e rotunda junto da Rua Stara Zagora com uma escultura do artista moçambicano José Malangatana.

Por amor de Deus, se não conseguirem fazer isto em três meses... ainda por cima a Av. Alfredo da Silva vai ter a sua largura reduzida para seis metros... (é mais que suficiente para passarem dois carros e até permite inversão de marcha! Isto leva-me a sugerir ao Sr. Presidente Carlos Humberto que se faça o mesmo à Av. J.J. Fernandes, no Lavradio e à Av. De Santa Maria, no Barreiro. Seria assim uma espécie de ex-libris desta cidade…Barreiro a cidade das Avenidas de 6 metros!).

Meus senhores, senhoras minhas, eu acredito mesmo nesta cidade polinucleada, uma cidade de duas margens, com o rio Tejo devolvido aos cidadãos, com amplas áreas de desporto e lazer, um hotel dentro de dois anos, uma cidade do cinema no Quimiparque (estou já a ver os tours turísticos em autocarro - destes mais pequenos recentemente adquiridos pelos TCB, ao estilo hollywoodesco, pelo Barreiro Velho), uma multidão a desembarcar nas novas estações, ferroviária e fluvial, do Quimiparque, a correr feliz para os seus empregos nos edifícios de serviços a construir no Quimiparque, não sem antes deixar de acenar, contentes, aos empresários que chegam de Madrid, no TGV, para estabelecerem acordos de negócios com o Gabinete do Empresário da Câmara Municipal, uma multidão aguardando a abertura das lojas de roupa de marca do Fórum Barreiro e as rapariguinhas de shopping, com os seus saltos altos a ressoarem na nova calçada da Avenida Alfredo da Silva (que na altura já deverá ter outra designação), atrasadas para ocuparem os 1000 postos de trabalho criados por este empreendimento.

Por essa altura já se deverá saber onde ficará a estátua de Alfredo da Silva e Carlos Mattos já deverá ter entregue ao governo o seu ante-projecto da Cidade do Cinema.

Meus senhores, senhoras minhas do, sempre Vosso,
Captain Jack & AlmaSense

quarta-feira, 23 de julho de 2008

ESTE BLOG ESTÁ DE FÉRIAS, ABRIRÁ BREVEMENTE COM A MESMA GERÊNCIA

Mesmo de férias, na costa vicentina profunda (pelo menos quando é preia-mar), chegam as notícias dessa terra tão badalada, ultimamente, como é o Barreiro. Nem mesmo esta “encenação” dos ciganos da Quinta da Fonte conseguiu desviar as atenções do que de bom se faz no burgo ribeirinho.

A mim ninguém me convence que o que sucedeu no bairro da Quinta da Fonte, em Loures, não passou de um esquema urdido pelo governo para desviar as atenções das acções desenvolvidas pelo nosso executivo camarário para eliminar as barracas na Quinta da Mina.

A notícia chegou pelo jornal e ficámos a saber como foi grande o contentamento do Sr. Presidente da Câmara do Barreiro quando anunciou que tinham sido erradicadas, as últimas barracas na Quinta da Mina.

O que nem os jornais, nem o Sr. Presidente nos disseram é que antes de terem sido entregues, a estas nove famílias ciganas da Quinta da Mina, as casas pintadas à pressa para disfarçar os danos dos anteriores moradores, curiosamente também de etnia cigana, o funcionário que representava a autarquia neste bairro, foi ameaçado por um dos pretendentes a uma destas mesmas casas.

A cena foi recambolesca e violenta. Segundo contam, à boca pequena, alguns funcionários da Câmara do Barreiro, o indivíduo em questão, armado com uma faca cortou o fio do telefone e ameaçou que faria o mesmo ao pescoço do funcionário camarário se não fosse um dos contemplados com uma nova casa.

O representante da autarquia, acabou por fugir e nem mesmo em risco de perder o emprego se predispôs a voltar ao lugar que abandonara. Não consta que a Câmara tenha dado início a qualquer processo criminal contra o agressor.

Apetece perguntar se a construção do Bairro da Quinta da Mina, [obra filantrópica da Câmara Municipal do Barreiro, (no tempo do PS, mas que para o caso pouco importa orque qualquer partido político faria o mesmo...) que no passado, em moeda antiga, custou muitos milhares de contos aos contribuintes, e necessita agora de quase 1M€ para ser recuperado], não é já bastante para gente que agradece tão pouco e começa, nitidamente a pensar que é nossa obrigação dar-lhes o que não querem pagar.

Com a proposta dos ciganos da Quinta da Fonte de convocar uma concentração nacional se não lhes derem outra casa noutro local, diferente de Loures, esperemos que ninguém se lembre de propor a junção destes aos que temos na Quinta da Mina.

Com a experiência de uns em partir casas e resolver os problemas a tiro e os treinos que os outros efectuam com regularidade, teríamos assim uma espécie de “Curso Novas Oportunidades”.

A forma com que estamos a falar desta “coisa” é em tom leve e ligeiramente humorado mas a “coisa” pode ser séria se todos aqueles a quem entregamos casas por rendas simbólicas, de 3€, 4€ ou 5€, ainda por cima se acharem no direito de não pagar sabendo que desta atitude nenhuma penalidade recai sobre eles.

A Câmara Municipal de Loures já divulgou quanto lhes deve estas 60 famílias que teimam em se manter desalojadas. E no Barreiro, a situação é diferente? Valerá a pena manter “integrados” estes cidadãos que teimam em não querer aculturar-se, mantendo o seu modo de vida, fechando-se numa sociedade que não aceita as mesmas regras que os demais dos portugueses?

Como se consegue explicar aos velhotes necessitados que habitam as casas em risco de derrocada do Barreiro Velho, aqueles que trabalharam uma vida inteira, pescando no rio, carregando às costas os sacos de adubo, na CUF, a cortiça na Braancamp ou espalhando o balastro nas linhas da CP, que o português de etnia cigana merece mais que eles ter uma casa com o mínimo de condições para habitar?

É Xenofobia? Sou Xenófobo? Talvez, nem eu sei...

Se xenofobia é sentir-me revoltado ao ver aqueles que trabalharam uma vida inteira para que a nossa sociedade possa ser como é, serem ignorados, deixados a morrer sózinhos num bairro como o Barreiro Velho, então devo ser xenófobo.

O que eu gostava realmente era que o Barreiro agradecesse aqueles que trabalharam uma vida inteira para que tivéssemos podido ter escolas, piscina, cinemas (que entretanto fecharam), ter podido tirar cursos superiores e sermos investigadores, informáticos, médicos, advogadas, gestores, engenheiras, enfermeiros, juízas, etc, dando-lhes um final de vida em casas condignas.

A Quinta da Mina deveria ser para aqueles que moram no Barreiro Velho, no Bairro das Palmeiras ou na Quinta da Amoreira, que trabalharam uma vida inteira, continuam trabalhando e não têm direito a reformas decentes.

Alerto os empresários da construção civil, o director financeiro da Câmara Municipal do Barreiro e o Vereador do Urbanismo para o facto de esta proposta poder render novas áreas para urbanizar e encher com prédios de habitação (comércio e serviços, já me esquecia). Sempre eram mais umas taxinhas ...

Ah, acabo de receber um e-mail onde me dizem que a estratégia é deixar cair o Barreiro Velho para depois se poder fazer melhor negócio. Como cada imóvel ocupa uma pequena área será necessário comprar três ou quatro para conseguir construir um edifício moderno. Esta situação que à partida pode parecer ser de evitar por obrigar a negociar com mais que um proprietário é no final mais lucrativa porque permite oferecer muito pouco a cada um dos potenciais vendedores uma vez que estes estão sempre reféns uns dos outros.

Ok, já percebi, meus senhores, o Barreiro Velho resolve-se assim. E o Bairro das Palmeiras?

Está a chegar outro e-mail... Claro, como pude eu esquecer que em tempos se falou também na cedência de terrenos do Quimiparque para habitação social? Pois claro! Com o comboio convencional a passar nos terrenos da sub-estação da EDP e instalações dos TCB haverá necessidade, daqui a alguns anos, quando estiverem esgotados os terrenos ribeirinhos do Quimiparque, de eliminar parte do aglomerado de empresas da antiga zona têxtil e construir aqui o bairro social onde viverão os sobreviventes do Bairro das Palmeiras.

Bem pensado. Sempre a trabalhar para o progresso do Concelho! Mas, lembrei-me agora. E a sub-prime? Não vos assusta a crise do mercado imobiliário? E se começassem a pensar em reformular o Plano de Reconversão do Quimiparque? Podiam sempre fazer o MasterReconversãoPlan ... Quaisquer 1M€ pagariam este novo trabalho da Risco-Augusto Mateus Associados-Parque Expo, não acham?

Mas nem tudo são nuvens negras no horizonte. Pelo jornal foi também possível saber que numa das rotundas que se projectam para a nova cidade, que o Forum Barreiro e o novo Mercado 1º de Maio vão criar, será erguida uma escultura de Malangatana.

Malangatana Valente Ngwenya, famoso pintor e escultor moçambicano vai edificar um monumento (uma escultura é pouco!), diz o jornal, junto ao antigo estádio Manuel de Melo. Mais se fica a saber que esta foi uma decisão do mMunicípio que já tem na sua posse o projecto.

Se assim é não seria correcto o Município mostrar ao Povo (que é quem mais ordena, lembram-se?) antes de decidir por si só onde o pôr? E quanto custa este monumento? O último, na rotunda da escola de Álvaro Velho, se se recordam, custou mais de 50 000 contos ...

Ou será que Malangatana, que afirmou ser a cidade do Barreiro a sua terra do coração e que “se alguém pensa que é mais barreirense que (ele) só por ter nascido lá (no Barreiro), engana-se”, com tanto amor e carinho oferece o monumento?

Espero bem que assim seja, porque caso contrário ficará a impressão, de que a aposta na gente da nossa terra é só quando se quer alguma coisa “à borla”!

A propósito quem foi o autor do bonito arranjo da rotunda dos Casquilhos? Está de parabéns! Que pena não vingar o exemplo ...

Meus senhores, senhoras minhas, boas férias.

Captain Jack

domingo, 29 de junho de 2008

INDIANA JONES E A CIDADE DO CINEMA

Em primeiro lugar deixem-me que vos peça desculpa pela escrita tardia desta postagem mas, confesso, acalentava a secreta esperança que o Sr. Carlos de Mattos, ilustre investidor da Cidade do Cinema, me viesse visitar, tal como fez à Quimiparque.

Hoje, 15 dias volvidos sobre a sua visita ao Barreiro, começo a ter algumas dúvidas que Carlos de Mattos me honre com a sua visita. Ainda acalento contudo a esperança que me explique, talvez por carta, fax ou mail, o que ainda não explicou a ninguém: Como é que um projecto tão apetecível, não consegue despertar interesse em cidades como Cascais, Sintra ou mesmo Oeiras, onde já existem infra-estruturas como o Tagus Park?
Carlos de Mattos a pensar na
Cidade do Cinema

Como é que um homem que lida com milhões de dólares, almoça com Spielberg* e George Lucas, tem um excelente relacionamento com o clã Kennedy, conhece Bill Clinton e George Bush, ainda não conseguiu, em mais de 10 anos de contactos, construir a sua cidade do cinema, em Portugal que “é uma segunda Califórnia”?

* “O Steven Spielberg, por exemplo, até há alguns anos ia várias vezes ao meu escritório, almoçávamos juntos, falávamos de tudo. Depois de ‘A Lista de Schindler’ anda tão ocupado que telefono-lhe e não me responde.”
Entrevista a Carlos de Mattos In Correio da Manhã de 30 de Abril de 2006

O capital social do Quimiparque é de cerca de 90Milhões de dólares. Este valor é apenas parte do investimento realizado em filmes como Waterworld, um enorme fiasco comercial diga-se “en passant”, “The Legend”, ou “Sin City”, uma obra carregadinha de efeitos cinematográficos e tratamento computadorizado.

Nenhum destes foi “blockbuster”, tendo mesmo ficado, em termos de receitas, muito aquém das expectativas, mas todos eles facturaram muito mais que o que seria necessário para comprar o Quimiparque, inteirinho, e nele construir, depois, as “Cidades do Cinema, do Teatro, do Circo ou das Telenovelas” que se entendesse.

Para se fazer ideia dos milhões que movimenta a indústria cinematográfica nos EUA, onde Carlos Mattos está inserido, vejamos o exemplo de facturação de alguns filmes que, contudo estão longe de serem s mais rentáveis:
. Salteadores da Arca Perdida (1981) - $209Milhões
. Indiana Jones e o Templo Perdido (1984) - $180Milhões
. Indiana Jones e a grande cruzada (1989) - $197Milhões
. Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal – (2008) - $683Milhões
. A Múmia (1999) - $155Milhões
. O Regresso da Múmia (2001) - $202Milhões
. Tomb Raider I (2001) - $131Milhões
. Tomb Raider II (2003) - $65Milhões
Indiana Jones a trabalhar no projecto da Cidade do Cinema

Num mercado em que cada filme movimenta mais capital que o equivalente ao património do Quimiparque, porque pede este empresário de sucesso em Hollywood, (fundador da CDM Interactive, empresa que fabrica e comercializa equipamentos, em particular sistemas de iluminação, para filmagens e espectáculos, apadrinhado por Akira Kurosawa, que entra no mercado cinematográfico a fabricar tripés, recebe a consagração pela invenção de uma grua para filmagens usada pela primeira vez em “ET – O Extraterrestre”), 30 a 40 hectares de terreno?

Porque não reúne ele os dólares necessários e simplesmente compra o Quimiparque, o Tagus Park ou mesmo um dos dois terrenos do Concelho da Azambuja onde a PRISA pretende instalar os seus estúdios de produção de televisão?

Com muito menos tempo de negociação o autarca da Azambuja ofereceu à Prisa duas alternativas, a primeira num terreno que fica na freguesia de Alcoentre, junto da Quinta da Torre Bela, com uma área de 40 hectares e o segundo, com uma área semelhante, numa quinta da freguesia de Aveiras de Baixo.

Ambos estão servidos por bons acessos rodoviários, com a Auto-Estrada do Norte (A1) e a linha de caminho de ferro próximas. As condicionantes existentes em ambos os casos para a construção, já que os terrenos estão classificados como Reserva Agrícola Nacional (RAN), não parece ser preocupante para o presidente da câmara local que desvaloriza este aspecto porque “as classificações serão alteradas até porque será um PIN (Projecto de Interesse Nacional) e essa condição é suficiente para que sejam levantadas as condicionantes impostas pelo Plano Director Municipal (PDM) em vigor e em fase de revisão”.

Qual é a diferença entre esta situação e a da “nossa” “Cidade do Cinema”?

No caso da Azambuja, o grupo espanhol Prisa, que detém a Média Capital e a TVI, que tem capacidade de investir e um projecto concreto, pretende construir um centro de produção de cinema e televisão e anunciam a criação de mil postos de trabalho, a maioria dos quais qualificados, para um espaço que deverá acolher também os novos estúdios da TVI.
In O MIRANTE - Semanário Regional - Edição de 06-03-2008 – busca Google por “Cidade do Cinema”

O projecto “Cidade do Cinema” no Barreiro abrangerá, segundo um dos seus responsáveis, as áreas do cinema, televisão, publicidade e media contemplando também um pólo universitário.

Em nome de Carlos de Mattos, o seu representante em Portugal, fala da criação de uma “Media City” ao lado de uma “Cinema City”, que contemple ainda áreas de entretenimento e de organização de eventos. Esta foi pelo menos a versão de 12 de Junho de 2008.

Relativamente a postos de trabalho, o projecto do Barreiro é apresentado como podendo chegar aos 9 mil, dos quais 3 a 4 mil serão directos.
In Rostos.pt edição de 12-06-2008

Também ficamos a saber que devido às novas tecnologias, que os espanhóis da Prisa não devem conhecer, o projecto barreirense vai caber em apenas 20 hectares (há 6 anos necessitava de 40hec) enquanto que a Hollywood ribatejana necessita de 40 hectares para criar “apenas” 1000 postos de trabalho.

Que vos parece esta conversa toda? A mim suscita-me as dúvidas que sempre suscitou, desde o início.

Quem cria réplicas do Titanic, em estúdio, para filmar a sequência do afundamento do célebre navio, quem investe centenas de milhões de dólares em filmes que “vivem” meia dúzia de meses nas salas de cinema e no mercado associado de merchandising, quem vai para o Haway, as Seychelles ou qualquer outra parte do mundo só para filmar um par de sequências de um filme, não precisa que lhe ofereçam 40 hectares de terreno.
Compra o Quimiparque por inteiro!

Com a primeira produção “à americana” paga grande parte do investimento e mesmo que o negócio dê para o torto ainda tem o património que lhe garante o valor investido.

Mas os pormenores desta grande produção da “Cidade do Cinema” são mais conhecidos fora do Barreiro do que na cidade que a verá (?) nascer e por aqueles que nela vivem.

O site http://fabricadeconteudos.com, na sua edição de 25-06-2008 noticia:

A cidade do Barreiro pode receber em breve um estúdio de cinema e uma universidade ligada ao entretenimento, numa iniciativa inserida no âmbito do projecto «Cidade do Cinema», a criar na margem Sul do Tejo.

O projecto deverá arrancar já depois do Verão, a edificar num terreno já negociado com a autarquia local, e cujo investimento deverá rondar os 300 milhões de euros.

Em declarações à Renascença, o dinamizador desta iniciativa, Carlos de Matos, salienta que o projecto prevê a criação de um estúdio de cinema de nível internacional e uma universidade ligada ao entretenimento, comunicação e tecnologia.


O Rostos, publicação de referência no Barreiro, muito bem relacionada com o poder local, situação indispensável para se poder dar notícia de qualidade, nada refere acerca destas afirmações pelo que se conclui nada ter sido dito sobre estes aspectos na reunião de 12-06-2008 no Quimiparque.

Refere, no entanto, este órgão informativo, que Eduardo Martins, “a face visível do projecto em Portugal”, começou por realçar a entrada do australiano Wayne Boss no projecto, afirmando que “ é um parceiro que vem dar a dimensão de media que nos faltava e enriquecer ainda mais este projecto”.

De Wayne Boss sabe-se que é australiano e um dos accionistas de referência da maior empresa de software australiana – a Telstra – que adquiriu recentemente a Sausage Software Company. Está também ligado ao mercado dos media através da produção de jogos e DVD’s.

Mas, Sr. Carlos de Mattos, que é feito da Disney, da Pixar, da Fox (esta até mandou fax confirmando o seu interesse), da portuguesa YDreams e outras importantes companhias do mundo do cinema?

Que é feito do seu tanque gigante para filmagens que envolvam água como em ‘Titanic’, os teatros, os restaurantes, os espaços de lazer, que publicitou ao “Correio da Manhã” em 30-04-2006, quando também referiu “É agora ou nunca.”

Afirmou o porta-voz de Carlos de Mattos, que “não há qualquer deslocamento ou atraso no projecto por causa da câmara ou do Quimiparque”, afirmou mesmo que “as razões que levaram a que o “processo não avançasse com a velocidade que todas as pessoas querem” se deve ao facto de que a evolução das tecnologias levou a que o projecto, com mais de uma década, tivesse de ser actualizado.

Explicou depois que com a “utilização das 3D”, as artes gráficas e os cenários virtuais, “a realidade é completamente distinta. Há muito trabalho que é feito em laboratório e estúdios de media”. Assim, termina dizendo, “foi quase partir da base zero do que tínhamos feito, quando iniciamos este projecto para Portugal.”

Meu Deus, que desculpa esfarrapada, que conversa para ingénuos, a tentar esconder o que é óbvio. Então em 2006, quando Carlos de Mattos dá ao jornal Correio da Manhã a entrevista do “Agora ou nunca” já não haviam tecnologias 3D? A Pixar e a Disney são o quê, companhias para as quais as novas tecnologias se resumem aos microondas?

Não estaremos, meus senhores, equivocados quando pensamos que os barreirenses vão em “conversas da treta”? E olhem que não me refiro aquele produto de media com o António Feio e o José Pedro Gomes.

Enquanto escrevia esta postagem recebi um e-mail do meu amigo Indiana Jones que passo a reproduzir na íntegra (depois de traduzido, claro):

Dear Captain (esta parte não traduzi)

Envio-te este e-mail (“e-mail”, também não traduzi) em nome do Carlos. Ele teve que sair à pressa para telefonar ao Spielberg, que continua sem lhe responder aos telefonemas, mas, sabes como é o Carlos, nunca desiste, nem que demore 10 anos ...

Quero que saibas que lhe disse que pelo menos deveria ter-te enviado um SMS, mas ele estava mesmo cheio de pressa. Como teve que reformular e começar do zero o projecto da Cidade do Cinema e as obras vão já começar em 2009, não pode perder tempo nenhum.

Eu sei que não acreditas neste projecto da “Cinema City”, como lhe chama o Carlos, mas olha que quem começa a fabricar tripés, que são coisas que conseguem ficar de pé só com três pés e triunfa, pode muito bem ser capaz de tudo.

Juntou ao projecto o australiano Wayne Boss que é assim uma espécie de rei do DVD lá para os lados de Sidney. Quem mo garante é o Crocodile Dundee que até há alguns anos ia várias vezes ao meu gabinete em Marshall College, almoçávamos juntos e falávamos de tudo. Depois de ter conhecido a Linda Koslowski anda tão ocupado que telefono-lhe e não me responde.

Olha Captain (não traduzi “Captain” para não terem dúvidas que o e-mail é mesmo verdadeiro!), não é justo o que andam a fazer com o Carlos. Estou desconfiado que se ele tivesse falado com o Isaltino... eu ainda lhe dei o contacto do sobrinho que é taxista, mas ele não quis.

O Carlos acredita no Barreiro, gosta das águas sujas do Tejo, das descargas de sucata ferrugenta no cais do Quimiparque, do caos urbanístico da cidade e, principalmente da iminente derrocada do casario no Barreiro Velho, que lhe lembram o suspense (reparem que também não traduzi “suspense”) dos meus filmes. Por tudo isto ele diz que o local lhe faz lembrar uma segunda Califórnia.

Por isto te peço, Capitão (no original “Captain”... é inglês), que o ajudes, que movimentes os teus conhecimentos, intercedas pelo rapaz junto dos teus amigos e avancem juntos para a “Cidade do Cinema”.

Olha, Captain (agora mantive o original, em inglês), se o ajudares prometo-te uma estrela no passeio da fama!

Sempre ao dispôr, Indy

Confesso, meus senhores, senhoras minhas, que este e-mail me deixou tão comovido que já nem li o outro que tinha da Lara Croft. Fiz de seguida vários telefonemas para amigos e conhecidos, dei início a uma petição a favor da “Cidade do Cinema” e estou finalmente em condições de vos dizer que “é agora ou nunca”!

Captain Jack

terça-feira, 10 de junho de 2008

A Vénus de Milo, a Sereia de Copenhaga e a estátua de Alfredo da Silva


O que têm estas três estátuas em comum? Aparentemente nada. A primeira está exposta em Paris e tem mais de 2000 anos, a segunda está sobre uma pedra na capital dinamarquesa, desde 1913 e, em 1965, a terceira foi inaugurada numa praça pública de uma cinzenta, triste e desconhecida cidade chamada Barreiro.

O elemento comum não é, como se vê, a geografia.

A Vénus de Milo é uma estátua grega que mede 203 cm de altura, foi esculpida em mármore e simboliza a beleza física e o amor. A pequena sereia dinamarquesa, pequena de mais para que se revele a sua altura, foi fundida em bronze em homenagem a Hans Christian Andersen, e é uma personagem imaginária de um conto de encantar, deste escritor dinamarquês.

A estátua de Alfredo da Silva, em bronze, com 360 cm de altura simboliza o espírito empreendedor daquele que foi chamado o “Capitão da Industria” e é uma homenagem a um homem que tem o seu lugar na história deste país.

Também por aqui não vamos lá. Não têm de comum nem os criadores, nem as dimensões e muito menos o que simbolizam. Duas delas, que se saiba, curiosamente feitas do mesmo metal, são homenagens a pessoas a quem o seu respectivo país reconhece mérito.

Se teimarmos em encontrar um ponto comum entre estas obras de arte seremos forçados a admitir que este aspecto reside na desilusão que nos causam.

A Vénus foi encontrada em 1820 na ilha de Milo por um pescador que não sabendo o seu real valor a tentou vender a oficiais franceses. Como estes demorassem muito tempo a decidir-se ofereceu-a também ao exército turco que de imediato se prontificou a levá-la para a corte.

No meio de um rocambolesco incidente a estátua acabou a bordo de um barco francês que a trouxe para Paris, deixando, perdidos nas ruas da ilha de Milo, os dois braços que lhe faltam. Verificou-se mais tarde que a amputação era ainda maior do que se pensava inicialmente. A figura estaria apoiada numa coluna e teria pulseiras e uma tiara em ouro, como parecem mostrar os diversos orifícios que existem na estátua e que seriam os pontos de fixação destes ornamentos.

Atraindo multidões ao Louvre, onde está exposta, não deixa de constituir uma certa desilusão, para os amantes da arte, não a poderem apreciar na sua forma original, isto é, completa.

A sereia de Copenhaga reserva a todos quantos a visitam a desilusão da sua pequena dimensão, mais acentuada porque somos obrigados a observa-la de cima.

Já a estátua de Alfredo da Silva constituiu, desde sempre, uma enorme desilusão para aqueles “defensores” da classe operária que nunca conseguiram ofuscar o brilho da imagem do que este homem representa para a generalidade dos barreirenses.

Escreveu o poeta que “aqueles que por obras valerosas/Se vão da lei da Morte libertando” mereciam que ele os cantasse por toda a parte, “Se a tanto me ajudar o engenho e arte.”

Arte e engenho talvez existam ainda hoje mas para enganar os ingénuos e incautos. Para enganar os que seguem cegamente os “presidentes de clube” ou os pseudo messias que surgem com a solução “ovo de Colombo” que aqueles que os antecederam não conheciam.

Com a actual polémica sobre a mudança da estátua de Alfredo da Silva estamos perante uma das muitas manobras de viciação dos factos para condicionar a opinião pública. Temos assistido a um desfilar de argumentos que vão desde os mais pueris, como o facto de a base da figura causar problemas técnicos à solução proposta pelo arquitecto Joan Busquets, ou o facto de todo o arranjo ser de três autores diferentes e como tal ser impossível conciliar estas linguagens com a proposta para o novo Mercado Municipal.

A verdadeira questão continua a ser o simbolismo que a estátua tem para o povo do Barreiro. Independentemente da personalidade do homem ou das suas ideias políticas, das benesses que recebeu (ou não) do regime e do preço que teve que pagar por elas (ou não), aquilo que o Barreiro recorda é a época em que trabalhar na CUF era sinónimo de segurança.

O que aquela estátua trás à memória dos barreirenses é a lembrança do tempo em que o Barreiro tinha cinemas, uma piscina, dois clubes na primeira divisão de futebol, uma actividade comercial próspera, emprego para 12000 pessoas directamente na CUF, o primeiro supermercado da era moderna (Pão-de-Açucar, lembram-se, onde hoje é o “Recheio”?), um patrono que construiu um externato infantil e o “vendeu” para Liceu, uma escola industrial e comercial que preparava os jovens para a vida do trabalho, ensinando-lhes uma profissão (desde serralheiro mecânico a analista químico, passando por torneiro mecânico, soldador ou electricista).

O que aquela estátua recorda ao povo do Barreiro era a qualidade de vida que se vivia na cidade onde a CUF e a CP garantiam o desenvolvimento e contribuíam, para lá da sua actividade, financiando a construção de bairros de habitação como é o caso do “Bairro da Câmara”, ou com a criação de serviços sociais, assistência médica e despensa de produtos alimentares, quando em Portugal ainda não havia um sistema de Segurança Social do próprio Estado.

Mas, olhando para aquela estátua os barreirenses recordam também a possibilidade de terem dado aos seus filhos os cursos que eles próprios não tiveram a oportunidade de tirar. O Barreiro possui entre os seus nativos uma percentagem de licenciados superior à média nacional. Alguns nomes conhecidos da generalidade dos portugueses, desde actores, jornalistas, advogados, juizes, médicos, engenheiros, arquitectos e até políticos são filhos da cidade e hoje profissionais consagrados nas suas áreas.

Mais do que recordar Alfredo da Silva, aquela estátua remete-nos para o tempo em que se desenvolvia a cidade, em que o nível cultural dos seus habitantes permitiu o florescimento de colectividades que, a coberto dos bailes de carnaval ou dos santos populares, desenvolviam um importante papel de consciencialização social. Faz-nos lembrar quando se faziam obras públicas como construir uma rede de saneamento básico, de abastecimento público de água, a criação de uma rede de transportes públicos ou a manutenção dos arruamentos.

Era toda uma cidade (ainda vila, nesses tempos) que tinha dinâmica própria e gente competente a gerir os seus destinos e não políticos com cassetes convertidas para CD, em novas versões dos discursos inflamados feitos aos portões da CUF/Quimigal, prometendo-nos futuros risonhos que, trinta anos volvidos, continuam sem se tornar realidade.

Nesta fase final do ataque ao que resta da memória do que outrora foi esta cidade, tentam re-escrever a história, apagando as referências que existem daqueles que o povo ainda recorda e a quem reconhece a valia de ter transformado uma vila piscatória que vivia, sazonalmente, da cortiça, num dos mais avançados complexos tecnológicos europeus da década de sessenta.

Em toda esta questão não me parece importante se a estátua fica no mesmo lugar ou se é transferida para outro. Preocupam-me muito mais os valores que esta decisão põe em questão. Que valores estamos a passar aos nossos filhos? Que as estátuas, geralmente homenagem aos notáveis de uma determinada época, podem ser mandadas para o “lixo”, guardadas num qualquer armazém como se tivessem prazo de validade?

Como se define o prazo de validade de uma atitude meritória, de uma figura que se destacou na sociedade, de um facto histórico ou de um acto de heroísmo?

Estará a estátua de Afonso Henriques, na cidade berço, dentro do prazo de validade ou pode ser mudada para um armazém na Azambuja para se poder transformar o Castelo de Guimarães e zonas envolventes num imenso centro comercial tipo Forum Barreiro, com umas centenas de fogos de habitação à mistura?

E que tal se seguíssemos a mesma linha de raciocínio e mudássemos também a estátua de Fernando Pessoa para, digamos, a Rua da Betesga? Sempre poderíamos garantir mais uma mesa de esplanada para nela se sentarem quatro “camones” ...

Movidos por esta ideia também poderíamos arrasar o Padrão dos Descobrimentos para melhor “devolver o rio à cidade de Lisboa”, os lisboetas puderem desfrutar da zona ribeirinha de Belém sem nada a tapar-lhes a vista, tanto mais que, hoje já não é mistério, sabe-se que a epopeia dos Descobrimentos Marítimos foi uma exploração do proletariado de 1500 e uma colonização subjugadora dos povos irmãos dos novos países de expressão portuguesa, em África.

É o respeito pelo passado que nos garante a História e é a História que nos permite aprender com os erros do passado. O povo judeu continua a visitar Auschwitz apesar de este lugar lhes trazer dolorosas recordações, mas faz questão de não deixar morrer a memória para que o passado não seja esquecido.

No Barreiro somos diferentes. Gastámos 50.000 contos numa “obra de arte” para a rotunda da Escola Álvaro Velho, inaugurámos um Memorial a Catarina Eufémia no parque municipal que recebeu o seu nome e preparamo-nos para esconder a estátua de Alfredo da Silva, num qualquer canto onde não chateie, como se este não tivesse feito nada pelo Barreiro.
Como futura localização da estátua começou por se falar na nova rotunda do conhecido Largo das Obras para rapidamente já se terem levantado hipóteses de o transladar para o seu mausoléu, no interior do Quimiparque ou para a frente do pavilhão gimnodesportivo do GDFabril. Por enquanto está guardado num armazém.

"A estátua já está a ser retirada devido às obras que decorrem para construção do novo Mercado 1º Maio e zona envolvente. É certo que a estátua não pode ficar naquele local. No executivo da Câmara já falámos sobre isso apesar de ainda não haver uma decisão pois a situação vai ser analisada na Assembleia Municipal", disse à Lusa Joaquim Matias, vice-presidente da Câmara do Barreiro.

“Nesta altura existem várias hipóteses e uma delas é colocar a estátua numa nova rotunda na zona do Largo das Obras (junto à entrada do Parque Empresarial da Quimiparque), mas existem outros locais, como o interior da Quimiparque", explicou o vice-presidente.

"A estátua é um obstáculo para uma praça ampla, com espaços comerciais e esplanadas, pois na zona o seu conjunto corta e divide aquela área", concluiu.
In “Noticias.rtp.pt” chave de pesquisa: “estátua de Alfredo da Silva”

Sobre o assunto, na sessão da Assembleia Municipal de 15 de Maio de 2008, o Presidente Carlos Humberto, explicou que "Fomos nós, e não o arquitecto Joan Busquets, que pensámos que a estátua não é compatível com a praça que pretendemos e demos essa indicação ao arquitecto. A estátua por si só, sem o pedestal e espelho de água, não vejo problema, agora como está não é compatível", disse.

"Os três elementos pertencem a artistas diferentes e devem ser vistos como um todo. Tem que se ter sensibilidade", acrescentou

"O Largo das Obras é uma hipótese, mas existem outras como dentro da Quimiparque ou junto ao estádio Alfredo da Silva. Ainda não há decisão e até entendi que não se devia retirar a estátua, devido aos trabalhos de construção do mercado e requalificação da zona envolvente, antes desta assembleia", explicou.

Nesta sessão da Assembleia Municipal a bancada do PS apresentou uma proposta para que fosse feito um referendo local sobre o assunto para que a população se pudesse pronunciar quanto à retirada ou manutenção da estátua, no entanto a abstenção do PSD e do BE deram origem à rejeição da mesma com os votos do PCP.

Apetece fazer algumas perguntas:
Quem tem medo da opinião do povo do Barreiro?
Que direito tem o executivo camarário de desrespeitar o passado histórico do Barreiro?
Que direito têm os gestores autárquicos de imporem uma filosofia de projecto a um arquitecto como Joan Busquets? Ou será que ele foi escolhido porque se predispôs a fazer tudo quanto lhe pedissem e não pela sua inquestionável valia técnica?
Como pode Joan Busquets ter contribuído para a reconversão do bairro catalão de Poblenou, em Barcelona, onde se fez questão de manter 144 elementos arquitectónicos característicos da zona e sujeitar-se, aqui, a retirar do local o único ponto de referência ao passado da cidade?
Como se explica que a memória de Alfredo da Silva seja incompatível com o espaço mas um elevador de vidro já possa ocupar o lugar central da futura praça?
E de que projecto estamos a falar? Alguém o conhece? Como se explica que uma simples moradia familiar tenha que enfrentar o calvário do processo de licenciamento camarário e este projecto não tenha um único elemento conhecido do público que, indirectamente, o está a pagar?
Porque é que nem os esboços apresentados nas supostas sessões de discussão pública estão no site da Câmara Municipal?

Não me importo que a estátua de Alfredo da Silva seja retirada do local onde está, penso mesmo que merece uma localização mais digna e onde possa ser apreciada, não pelo seu valor artístico mas pelo que Alfredo da Silva representou para o país.

Sem dúvida, meus senhores e minhas senhoras, o Barreiro não merece o privilégio de ter a estátua daquele que, entre reis, rainhas, presidentes e notáveis da história de Portugal, está no grupo das 100 figuras do milénio.

Sempre ao V. dispor

Captain Jack