domingo, 6 de janeiro de 2008

PALERMAS, ELEFANTES BRANCOS e OUTROS "BICHOS" DE ESTIMAÇÃO

É preciso recuar aos idos de 1976-1978, nos anos a seguir à revolução de Abril, embora eu prefira chamar-lhe simplesmente Golpe de Estado (e basta olhar para a falta de vergonha, irresponsabilidade e pouca competência da maior parte dos nossos políticos de hoje para perceber que assim foi), para assistir ao nascimento do primeiro projecto Elefante Branco na cidade do Barreiro.

Englobado numa série de investimentos “sociais” a Quimigal construiu um conjunto de fábricas de onde se destacam a célebre Kowa Seiko que deveria aproveitar as pirites alentejanas, enriquecê-las e enviá-las para a Siderurgia Nacional, no âmbito do, então, Plano Siderúrgico Nacional.

A Kowa Seiko nunca chegou a alimentar a Siderurgia Nacional porque, entretanto, também o Plano Siderúrgico Nacional não saiu do papel e tudo se saldou numa experiência negativa que custou ao país alguns milhões de contos (na moeda da altura), perdidos e convertidos em toneladas e toneladas de pirite que, durante anos foram monumento à memória da decisão política de Lisboa.

A Kowa Seiko foi vendida como sucata, anos mais tarde, pouco restando que a recorde. Outras fábricas, contudo, ainda hoje existem embora despojadas daquilo que as poderia tornar valiosas para produzir ou estão mesmo completamente obsoletas, após todos estes anos.

Fibras de Vidro, Zinco Metálico, Sulfato de Alumínio são exemplos de elefantes brancos de investimento que não serviram para nada.

Na altura, como hoje se diz de outros projectos em curso, iriam gerar emprego e trazer um novo fôlego à cidade do Barreiro, para que esta recuperasse a sua importância na Margem Sul.

A História mostrou-nos que, afinal, de boas intenções está o mundo cheio (e o Barreiro também!) sendo que o resultado foi que a Montanha pariu um ratinho.

As fábricas foram desmanteladas, os trabalhadores despedidos salvando-se, no entanto, a maior parte dos edifícios, aproveitados a partir de 1990 para, remodelados, acolherem várias empresas das mais diversas áreas de actividade, e assim se mantém até hoje.

Na altura (em 1991), sem grandes manobras de propaganda publicitária, sem grandes devaneios megalómanos, alguém apostou num projecto que hoje se demonstrou ser realista, exequível e, mais importante ainda, foi possível realizar. Impediu-se, com este pouco ambicioso projecto, a degradação do património edificado da Quimigal no Barreiro, foi possível reconstruir infra-estruturas, criar uma envolvente verde no interior do que veio a designar-se por Parque Empresarial e instalar cerca de 300 empresas que empregam 4000 trabalhadores (os números são do Presidente do Conselho de Administração da Quimiparque, publicados pelo jornal “Notícias do Barreiro”).

Mais recentemente, em 2004, foi inaugurado o Museu Industrial da Quimiparque, demonstrando a capacidade de quem sabe trabalhar sem alarde nem propaganda enganadora, afirmando-se pelo saber fazer com os recursos de que dispõe.

São, certamente, ensinamentos da velha “escola” da CUF que aqueles mais velhos tão bem recordam. O Infantário, a Escola Primária, o Posto Médico, o Complexo Desportivo, o Cinema, os Refeitórios, o Balneário, as Despensas, o apoio à Escola Alfredo da Silva, aos clubes da vila (na altura o Barreiro era uma vila), os Bairros habitacionais de Santa Bárbara e o “Novo da CUF”, mas sobretudo a capacidade de criar emprego que, directamente, envolvia 10000 pessoas.

Como é diferente o modo de trabalhar dos nossos responsáveis autárquicos de hoje!

Publicitam-se projectos Polis que, findos três anos após o seu início, se resumem a um passeio ribeirinho com uma ciclovia, “constroem-se” hotéis à beira-rio com vista para “marinas” imaginárias, “cidades do cinema” sem final feliz para, volvidos trinta anos tudo se resumir a um enorme Parque da Cidade, com labirínticos acessos e vedado por edifícios, um auditório, com programas culturais, tímidos e reticentes, que enche por convite, um colossal (em minha opinião) mamarracho escultórico na Rotunda do Álvaro Velho e uma “complexa” rotunda ,nos Casquilhos, cuja construção decorre há mais de 6 (seis) meses!

Anunciam-se agora novos, importantes, ambiciosos, redentores, magnânimos, super-projectos para o centro da cidade.

Um Centro Comercial – Fórum Barreiro – para o qual nem os acessos foram estudados, projectados e muito menos executados, um (mais outro!) complexo habitacional no Campo das Cordoarias (também já lhe chamaram Rossio talvez recordando como seria bom termos por cá um novo Marquês de Pombal) e, por último, tudo pensado para a mesma zona, um outro complexo de comércio, habitação e serviços projectado para onde se ergue, ainda, o Estádio D. Manuel de Mello.

Vai dinamizar e requalificar o centro da cidade” houve quem já o afirmasse mas, para mim, que ainda não me esqueci da confusão que foi a vinda do SLBenfica para jogar com o FCBarreirense, neste mesmo estádio que vai ser demolido e, olhando para o projecto viário que a Câmara Municipal do Barreiro pretende desenvolver à custa da Quimiparque, atrevo-me a dizer que estamos a apostar no cavalo errado.

Sobre este Elefantinho Branco que “estamos” a construir e que já incomoda os moradores da Rua Stara Zagora, a quem ninguém teve o cuidado de informar convenientemente das reais dimensões e implicações desta construção, levantavam-se-me algumas dúvidas que não conseguia entender:

I. Onde está o Estudo de Impacto Viário que deveria ter sido exigido ao promotor?
II. Porque, à semelhança do que fizeram outras autarquias que têm equipamentos semelhantes, não foi exigido ao promotor a construção das necessárias e adequadas infra-estruturas viárias, para fazer face ao esperado fluxo viário?

Até que, em 29 de Setembro de 2007, fiquei esclarecido. Nenhuma das medidas anteriores foi necessária porque se recorreu à Quimiparque, (mais uma vez!), uma empresa de capital público que, já que “mexe” com o dinheiro de todos, pode ser espoliada dos seus activos para rentabilizar o investimento de (alguns) privados.

Desta vez será dada uma dentadinha nos terrenos da Quimiparque contíguos ao estádio do Barreirense e talha-se o resto, cortando em dois o restante território, para o atravessar em direcção ao IC 21.

Recentemente, a um promotor imobiliário que criou uma urbanização em Santo António da Charneca, com 250 fogos de habitação, foi-lhe exigido que construísse uma rede de esgotos com cerca de 1.5km fora dos seus terrenos e ao longo da estrada municipal que liga esta freguesia a Vila Chã.

Ainda estão na memória dos barreirenses os incómodos que isto lhes trouxe, mas era necessário e por isso esse promotor teve que suportar os custos inerentes a esta obra.

Então, apetece agora perguntar, porque razão é que este promotor que propõe um Centro Comercial (que vai acabar com o comércio local) e um conjunto habitacional de 139 fogos (com 5 metros de janela para aproveitar a “amplitude da paisagem” ??? in http://www.rostos.pt/inicio2.asp?cronica=40673&mostra=2), não suporta ele também os custos com as necessárias infra-estruturas, viárias e não só?

Para onde vão os esgotos? Já estão feitos? Alguém já se esqueceu das inundações do cruzamento da Rua Miguel Bombarda com a Av. Alfredo da Silva, sempre que chove? Ligam ao sistema de esgotos da Quimiparque e depois? Irão para o rio Tejo? Estes não poluem nem contaminam as águas? E terá o sistema de esgotos da Quimiparque capacidade e condições para tal acréscimo de caudal?

E porque razão se aceita a redução do número de lugares de estacionamento em ⅓, o que se traduz numa poupança de 4 (quatro) milhões de euros ao promotor do Fórum Barreiro, se amplia a área comercial a arrendar desistindo da ideia de deslocar para este espaço o Mercado Municipal e não se negoceiam melhores contrapartidas?

E porque razão se corta em dois, um parque empresarial onde trabalham 4000 pessoas e empresas importantes como a Sovena (responsável pelo óleo Fula e o azeite Oliveira da Serra, que consumimos), a Mateace (um importante empreiteiro da EDP para o norte e sul do país), a Ipodec e a Ambimed (empresas certificadas na área do tratamento de resíduos), a Noxitel (empresa de telecomunicações que produz e instala as antenas que nos permitem trabalhar com os nossos telemóveis), a Efacec/Atm (importante empresa de metalomecânica e electromecanismos), entre outras?

Que é feito dos discursos de apoio aos desfavorecidos do Bairro das Palmeiras agora que nos preparamos para desviar definitivamente o trânsito do interior deste aglomerado? Será para criar uma imensa zona pedonal com vista para os pátios degradados ou para criar um gueto?

Porque não ter aproveitado esta “Nova Cidade” para rasgar, directamente da rotunda já executada no limite sul do Campo das Cordoarias, uma alameda paralela à linha-férrea, com custos suportados pelos diversos (?) promotores, a exemplo do que se fez em Almada ou no Seixal?

Não seria uma oportunidade para demolir algumas casas degradadas e sem condições de habitabilidade, no Bairro das Palmeiras, e alojar os seus habitantes em casas de habitação social?

Ainda não acabou, prometo-vos senhores meus, minhas senhoras, que voltaremos a estes e outros assuntos. Palavra de

Captain Jack

10 comentários:

Anônimo disse...

Gostei...

Anônimo disse...

obrigado captain jack por me ter dado acesso ao seu blog que adicionarei nos meus preferidos. pena que eu não consiga comentar nele por ignorancia (informática)minha- aqui vai um abraço.
é verdade, temos o barreiro cheio de "barreirezes" como dizia o nosso querido augusto cabrita.
olhe, não se aguente mas lute, como eu.
um abraço capitão.
kira

http://pintorkira.blogspot.com/

Anônimo disse...

QUEM ESCREVE ASSIM, GOSTA DO BARREIRO !!!!

PALMAS !

José Gil disse...

Caro Captain Jack, apesar de ser bem mais novo que o senhor (Quando se deu o 25 de Abril de 74 eu ainda não era nascido) compartilho da sua reflexão sobre o Barreiro.

É notório que a nossa Cidade tem ,sido mal gerida, em todos os sentidos, com uma falta de visão que roça a tacanhez e a mesquinhez doentia.

Tenho reflectido na importância de uma figura Barreirense que, infelizmente, foi votada ao esquecimento, penso eu que por razões políticas. Falo-lhe de Alfredo da Silva fundador desse outrora grande império industrial, chamado CUF. Ter uma estátua, o nome numa avenida e num estádio de futebol, não reflecte minimamente a importância que este senhor teve para o Barreiro.

Realmente os nossos heróis foram esquecidos, porque não se coadunavam com a ideologia vigente. Hoje, nada mais são que ornamentos da cidade, ocos de significado e de importância.

Parabéns pelo seu Blog e espero que continue a passar pelo meu.

Um abraço

Carlos Correia disse...

Obrigado pela indicação do seu blog. Comungamos de bastantes pontos de vista, embora não na totalidade. Vou por uma ligação no meu blogue, porque quem escreve assim merece ser divulgado.

Em Janeiro de 2006, publiquei no "Sacanas e Sentimentais" o texto que a seguir insiro:

Barreiro – A centralidade periférica

Trace-se um círculo ao redor da Grande Lisboa. No centro, no âmago dessa massa de gentes e construções, situa-se o Barreiro. No entanto, é mais excêntrico, mais periférico, que as periferias geográficas. A que se deve tão estranha contradição?

Delineemos uma brevíssima incursão sob a história moderna do Barreiro. Criado por gentes marinheiras que se foram radicando junto ao rio foi, mais tarde, acrescentado por ferroviários e operários das indústrias químicas. Nasceu assim uma urbe diversificada nos pólos de desenvolvimento mas unida na vida associativa e política.

O seu acentuado querer de esquerda não lhe granjeou simpatias nem benefícios na ditadura. Apesar disso e mercê da força do seu colectivo sobreviveu e a industrialização, acompanhada de fenómenos de imigração, desenvolveram, embora de forma algo caótica, a urbe.

Era de esperar que com os alvores da Liberdade um surto de progresso e modernização rebentasse na então vila da pertinaz resistência. Contudo, por fenómenos que podemos enumerar mas que só os sociólogos poderão analisar em profundidade, o Barreiro começou a ser lentamente estrangulado.

Porque é que sendo, durante tantos anos, um centro Ferroviário se viu despossuído do seu terminal e o comboio que liga a Margem Sul a Lisboa parou primeiro no Fogueteiro e depois avançou para Coina, evitando o Barreiro?

Porque é que a Ponte Vasco da Gama, envolta na polémica do seu posicionamento, foi desviada do Barreiro, local de mais forte densidade populacional, e a colocaram em zona desviada onde menor serviço poderia fornecer a esta população?

Porque é que o Metropolitano, em perspectiva, continua em cortes e plantas com miríficas datas marcadas e nenhuma solução à vista.

Se a estas interrogações acrescentarmos os efeitos do encerramento das fábricas da Quimigal, sem que outras unidades produtivas mais modernas e eficientes a tenham substituído, começamos a vislumbrar os motivos, induzidos por estranhos interesses, que estão a levar o Barreiro a uma dolorosa estagnação.

O comércio tradicional agoniza cercado pelos grandes Centros Comerciais implantados nos arredores distantes da Metrópole. A população começa a envelhecer e a diminuir, incapaz de fixar os seus jovens que procuram vida em zonas menos afectadas pelas crises nacionais ou locais, assim se entardecendo uma cidade!


No entanto, com um pouco mais de atenção dos Poderes, poder-se-ia dar prontamente um rejuvenescimento do tecido sociocultural e económico desta urbe. Esperamos pelo Polis; pela reclassificação urbana; pela devolução do rio à paisagem e lazeres da população; pela possibilidade de alargamentos do pólo de estudos superiores; pelo desenvolvimento de uma indústria forte, não poluente e actualizada; quem sabe por companhia residente de teatro, orquestra, bandas e outras actividades de religação social e, talvez, da nunca construída ponte ferro-rodoviária aproximando de vez esta centralidade periférica do centro a que realmente pertence.

Anônimo disse...

de preferêncie volte mas com mais jeito e menos demagogia...não mete medo a um rato. também voltarei, mais alongada e demoradamente. pode ser que perceba q ainda n percebeu

Ricardo Ferreira disse...

Caro Captain Jack. Antes de mais tenho-lhe a dizer que não sou do Barreiro. Sou contudo um grande admirador do Barreiro, especialmente pelo que o Grupo CUF representou em épocas passadas tanto para o Barreiro como para a Economia Nacional. Passou plea instauraçao da monarquia, viu 2 guerras mundiais, atravessou todo o Estado Novo e por fim quando era uma empresa respeitada tanto a nível nacional como internacional é retalhada sem do nem piedade pela revolução de abril e inserida numa estrutura industrial incoerente. Como já por aqui já disseram e muito bem sobre Alfredo da Silva não basta ter o seu nome em ruas do estátuas, deveria ser ensinado na escola! Muitas vezes pergunto: E hoje em dia? de quantos Alfredos da Silva precisaria este país"

Caso nao conheça deixo-lhe aqui o meu blog: http://www.industriacuf.blogspot.com/

os melhores cumprimentos
Ricardo Ferreira

Anônimo disse...

hello, andava eu á procura do telefone da matiace, quando vi o blog e achei muito bom o que diz sob o Barreiro..e só lá fui uma única vez.. boa sorte e que os seus ojectivos sejam concretizados em pleno
TC

USADOS TOYOTA disse...

Caro Captain Jack,pelo que li no seu Blog reparo que é uma pessoa que gosta do Barreiro,que tem conhecimento do que se passa nesta terra cheia de tradições e história.
Compartilho consigo muitas das criticas que faz. O Barreiro é uma terra que foi deixada ao abandono, deixada por quase 30 anos de poder PCP na autarquia em que não souberam ou nao quiseram inovar, criar emprego,fixar os jovens no Barreiro.Todos nós que vivemos no Barreiro sabemos disso, De 1974 a 2000 o Barreiro parou, parou o investimento, ficou velho,feio, sujo.Partilho das suas preocupações sobre o transito no Barreiro e mais agora com a contrução do Forum Barreiro, mas não posso deixar de referir que a criação de emprego que este vai gerar vai ser muito importante para a nossa terra.Em relação ao fim do comercio tradicional no centro do Barreiro acho que nao vai acontecer tanto como o Sr. diz,digo isto porque o forum fica ao contrário do que acontece muitas vezes no centro da cidade, Repare no Centro Comercial do Chiado existe o Centro mas tb deu muita vida a todo o comercio a sua volta, pq nao conseguir o mesmo no Barreiro, porque não o comercio tradicional adaptar-se tambem ao Forum e abrir até mais tarde. nao deixar que o centro fique cheio de lojas dos chineses, criar as condições para que outras marcas instalem-se na rua miguel Bombarda e na Av.Alfredo da Silva onde existem várioa centro comercias fechados aos Domingos e a noite.
A praça velha acho que é um bom projecto tambem é um projecto que vai revitalizar toda a Av. Alfredo da Silva. Meu caro no meu entender o Barreiro tinha necessidade destes projectos, tinha necessidade da ponte, tem necessidade do metro sul do tejo, da ponte para o Seixal, senão iriamos ficar fechados na periferia de Lisboa e ver os outros a crescer e a dinamizarem as suas terras, iriamos continuar a deixar os jovem sair do Barreiro(nos ultimos anos sairam do Barreiro mais de 20 mil jovens) naõ podemos continuar sem investimento. Obrigado a todos e mais uma vez o seu blog está muito bom Parabens

João disse...

Caro Captain Jack:

Está completamente enganado a respeito da fábrica do zinco metálico. Ofendeu-me a mim e a todos quantos trabalharam para a fábrica. Cuidado com o que diz.

João Medina